Poucos brasileiros sabem, hoje, sobre o atentado ao presidente Prudente de Morais, em 5.11.1897, no trapiche do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. Ele fora ali para receber as tropas do Exército que tinham massacrado os rebeldes em Canudos. Seria o alvo de um soldado da 3ª Companhia do 10º Batalhão de Infantaria, Marcellino Bispo de Miranda, mas a vítima fatal foi o ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, que jogou o corpo para proteger o estadista ao perceber a aproximação do agressor com um punhal. Ficou ferido ainda o coronel Luiz Mendes de Moraes, chefe da Casa Militar. O autor teria agido a mando de adversários políticos e foi encontrado morto por enforcamento, na cadeia, poucos dias depois.
Prudente de Morais havia tomado posse em 15.11.1894, como primeiro presidente civil, irritando o marechal Floriano Peixoto, que tinha sido o segundo governante provisório e preferia que o poder permanecesse com os militares. O quadro político estava conturbado com duas facções republicanas – os radicais florianistas e a oligarquia cafeeira – em meio a grave crise econômica e ao repúdio a medidas oficiais para incentivar a industrialização. Somava-se a isso também o desagrado pelo desfecho da Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul, em que o presidente havia negociado, em 1895, com os maragatos, anistiando os rebeldes a Júlio de Castilhos e ao federalismo. Por fim, obtivera sucesso na quarta expedição para combater os sertanejos na Bahia ao custo de impiedoso ataque a mais de 6.000 flagelados pelo clima e pela exclusão social, sob a liderança messiânica de Antônio Conselheiro. Ele se apresentava como enviado de Deus para acabar com a desigualdade social e cobrança de tributos, delineando a República como a materialização do reino do anticristo.
Suspeitou-se que o vice-presidente Manuel Vitorino, membro da ala florianista mais radical, tivesse participado da conspiração, mas ele jurou inocência. Prudente de Morais emitiu uma nota, no dia seguinte, afirmando: “O crime não demoverá uma só linha a caminho do dever e da defesa da lei, do princípio da autoridade e das instituições republicanas”. Em seguida, instituiu o estado de sítio para suspender direitos constitucionais e governar com poderes ampliados, até a transmissão do cargo a Campos Sales, em 15.11.1898.
Houve, desde então, outros golpes, regimes de exceção, suspensão de eleições diretas e impeachments, que impediram o desenvolvimento socioeconômico, a adoção de moderna práxis política e a formação de cidadãos conscientes de sua soberania diante das urnas para escolher quem pode administrar o quinto país do mundo em população e extensão territorial. Estamos, infelizmente, vivendo uma campanha repleta de vícios, acusações mútuas, trapaças, recursos judiciais e candidatos com ficha criminal. Os eleitores têm enfrentado graves problemas e estão à mercê de discursos demagógicos e mentirosos. Falta, sobretudo, serenidade ao país, e o resultado pode ser desastroso.