JOÃO GUALBERTO JR.

A trave fincada nos meus olhos

Redação O Tempo


Publicado em 13 de outubro de 2015 | 03:24
 
 
 
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Mais de 60% dos brasileiros são a favor do impeachment de Dilma, apontaram pesquisas de opinião. Logo, seriam milhões os brasileiros que se arrependeram da escolha que fizeram há um ano, pelo menos no segundo turno. Decepcionados? Desejariam voltar no tempo? Almejariam reescrever o passado? Por certo, mas rebobinar o cronômetro não tem jeito.

“Fomos enganados!”, vista a carapuça quem quiser, mas decepção, contrariedade e arrependimento não dão suporte a impeachment. O respeito à democracia deve imperar acima dos sentimentos negativos, ainda que coletivos; democracia é um valor em si.

O segundo governo aparenta ser fraco, débil e errático. Aliás, o segundo governo sequer tomou posse, a considerar aquilo que se pintou na campanha e as esperanças mobilizadas. Mas qual é o poder das forças oposicionistas, dentro e fora das instituições políticas, nos deslizes governamentais? Esse componente externo equipara-se ao mérito próprio da atual gestão por seus fracassos?

Toda a reação adversa que Dilma e seus aliados “de facto” sofrem desde antes da virada do ano demonstra que “não era” para ela ter sido reeleita, foi um acidente “fora do script”. Mérito da campanha da frágil senhora ou demérito da oposição, incapaz de se fazer valer como alternativa?

Fato é que o terceiro turno da eleição já dura um ano. É um ano de “greve branca”, de paliçadas erguidas, de obstacularizações, conspirações, mobilizações e inconformismo com a derrota que não passa, uma ferida que não seca. Se o governo enfrenta as mazelas que ele próprio criou, defronta-se com muito mais adversidade de outubro a outubro. E a democracia, um valor em si, convém repetir, requer vigilância perene.

A Lava Jato demonstrou pela primeira vez a profundidade do lamaçal sobre o qual se debruça ainda em meados de 2014. Já nessa época discutiam-se duas saídas: uma, o expurgo geral a quem fosse manchado, o que levaria a uma reestruturação ampla dos quadros no poder e certamente impactaria a saúde de nossas instituições. A segunda saída, um acordão amplo, envolvendo vários Poderes e setores.

Mais de 60% dos brasileiros querem o impeachment. Quem analisa, vai e quer conduzir os processos foi denunciado ao Supremo: teria recebido US$ 5 milhões, mandado o dinheiro para contas secretas na Suíça e, com ele, pagou até aula de tênis nos EUA. Seu vice, que poderia assumir a Mesa, além de também ser suspeito na Lava Jato, responde processo até por sequestro.

No TCU, o ministro que acusou as tais pedaladas fiscais teria recebido mais de um milhão e meio de reais em propina conforme outra investigação da PF. Na oposição, um senador é acusado de ter tido a campanha financiada com recurso de empreiteira que, na verdade, veio de contrato com a Petrobras, e outro senador, presidente de partido e ex-coordenador da campanha presidencial da oposição em 2014, teria cobrado R$ 1 milhão em um esquema no seu Estado.

São esses alguns dos senhores que comandam o anseio popular de afastar a presidente da República. O cotidiano da política é a arte da hipocrisia e da manipulação dos pobrezinhos. 

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