JOÃO GUALBERTO JR.

Não às doações de empresas

Redação O Tempo


Publicado em 15 de abril de 2014 | 03:00
 
 
 
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É melhor começar por cima ou por baixo? Tanto faz, dá no mesmo. Vamos pelo município então. Marcio Lacerda chegou a chamar de “injusta” a suspensão do reajuste de 7,5% na passagem do ônibus de Belo Horizonte. A decisão foi da Justiça a pedido do Ministério Público. Logo, o prefeito chama de “injusta” uma deliberação da Justiça. Só falta agora ser mais realista do que o rei.

Agora, por que 7,5% se a inflação do Ipead/UFMG fechada em 2013 foi de 6,14% e o IPCA nacional, de 5,91%? Ah, o plus sempre se justifica pela sensível planilha de custos das empresas, por combustíveis, lubrificantes, pneus, salários de funcionários etc.

Mas e os custos cotidianos do usuário, esses foram mitigados? Melhoraram as condições das linhas, a pontualidade e o conforto, ou todas as mazelas tiveram fim com o BRT? Prefeito, BHTrans e concessionárias do serviço, lembrem-se das promessas e cobranças feitas pela presidente Dilma em cadeia nacional no fim de junho do ano passado.

Aí, vem a notícia de que a Minas Arena, a concessionária do Mineirão, recebeu R$ 44 milhões no ano passado do governo do Estado para não fechar o exercício no vermelho. Mostrou O TEMPO que os recursos seriam suficientes para manter a saúde de uma cidade do tamanho de Itabira pelo mesmo período.

Mas como se justifica o cenário de prejuízo se o Cruzeiro foi campeão brasileiro, o Atlético disputou lá a final da Libertadores, e teve shows de Paul McCartney, Elton John, Beyoncé e Black Sabbath? Ah, tem os custos. Se o Mineirão novo não deu lucro com um 2013 de oportunidades atípicas, não dará lucro nunca. Mas a Minas Arena jamais sairá no prejuízo: reza o contrato que o governo de Minas cobrirá a diferença de receita quando houver. Pelo visto, será sempre.

Já no âmbito federal e ainda no mesmo campo da bola, as grandes empreiteiras grassam nos canteiros da Copa. É sempre o mesmo grupinho que vence as licitações para construir seus castelos de dinheiro e voto. E ainda tem os aeroportos, as duplicações de BRs e o PAC com suas várias alcunhas – isso sem falar na transposição faraônica.

A praxe é sempre a mesma: do projeto básico à obra entregue, o caminho passa por aditivos e aditivos até chegar à explosão do orçamento. Não há metro quadrado de concreto neste país bancado com nossos impostos que não sofra da sina da cornucópia. Enquanto isso, Lula, que virou embaixador das megaconstrutoras na África e na América Latina, ensina que temos que nos orgulhar da Copa, como uma oportunidade histórica única.

Partamos de uma visão classista de nossa sociedade: seja na Afonso Pena, 1.212, na MG–010, no bairro Serra Verde, ou na praça dos Três Poderes, quem tem o poder nas mãos escolheu um lado, que não é o do povo. A massa está órfã de representantes no Executivo: seus interesses são vendidos a cada eleição, a cada PPP e a cada licitação. Afinal, nas mãos de quem está o poder realmente?

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