JOSÉ REIS CHAVES

A queda relativa dos anjos, que é temporária e não sempiterna

Redação O Tempo


Publicado em 17 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Empreguei o adjetivo feminino “sempiterna”, pouco usado, porque ele é que significa realmente tempo sem fim ou para sempre. Eterno, pela sua etimologia grega “aionios”, significa tempo indefinido, indeterminado, e não para sempre, como foi traduzido erradamente para a nossa língua e outras. 

Ademais, Jesus nos ensinou que pagaremos tudo até o último centavo. Isso quer dizer que paga a última falta, estaremos quites, o que joga totalmente por terra as penas sempiternas. Os teólogos antigos, para amedrontar o povo, exageravam as consequências dos nossos erros. E inferno é tártaro, da mitologia grega, ou seja, o lugar em que segundo os antigos as pessoas pagavam seus pecados. Como se vê, a Bíblia tem mitologia, o que não é surpreendente, pois ela foi escrita na época mitológica. 

Pietro Ubaldi, em seu livro “Deus e Universo”, aborda no capítulo quatro a queda dos anjos, e no cinco, a origem e fim do mal e da dor. Sabe-se pela doutrina dos espíritos codificada por Kardec que nós e os anjos, que são também espíritos humanos de alto nível de evolução, não regredimos. E na página 64, Ubaldi afirma que a queda dos anjos é a involução. Porém diz também que dela, eles absorveram o mal em dor, edificando-se pelo sofrimento com a experiência da vida, assim se desmaterializando e espiritualizando na ascensão ao encontro de Deus, que não abandonou o ser que caiu, mas apenas lhe disse: “Destruístes o esplêndido edifício. Contudo, continuas a ser meu filho. Reconstruirás, porém, tudo com teu esforço”.

Ubaldi dá, pois, a entender que a involução dos anjos é apenas temporal, transmitindo-nos a ideia de que quem peca, cai, mas o espírito não fica caído ou regredido, pois ele se levanta por ele mesmo. E há certa analogia entre eles e nós. Em grego, pecado é “amartia”, que quer dizer tropeço, que pode levar a uma queda ou não. E o autor, na página 65, deixa sobre essa involução dos anjos o sentido de uma mutilação e não bem de uma expressão da realidade. Parece, pois, que ele quer dizer que o espírito fica impuro até o seu resgate. E é claro que nós, quando erramos, ficamos mesmo moralmente impuros até o resgate ou a purificação. Então, ficaríamos momentaneamente estagnados no nosso progresso moral. Seria isso que Ubaldi chamou de involução? Observando o conjunto do que diz, sim.

Vejamos agora o que explica são Pedro sobre a queda dos anjos: “Ora, se Deus não poupou a anjos, quando pecaram, antes precipitando-os no inferno (tártaro, na Terra, o lugar das reencarnações, o vale de lágrimas da Salve Rainha, para os impuros se regenerarem ou se purificarem); e continua Pedro: “os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo” (2 Pedro 2: 4). Os parênteses são meus. E Ubaldi diz também, nos dois capítulos quatro e cinco de seu livro citado, que Deus criou os anjos caídos (o que vale, igualmente, para nós) com egocentrismo e livre-arbítrio, para eles porem-nos em prática. Ora, foi por esse amor egoístico e sua liberdade que eles tiveram o desejo de superarem Deus. E é claro que Deus, respeitando a liberdade que Ele próprio lhes deu, não podia obrigá-los a prestarem obediência a Ele. 

E pelo que vimos, tanto são Pedro como Pietro Ubaldi sugestionam que a queda dos anjos é temporária e não para sempre ou sempiterna!

 

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