JOSÉ REIS CHAVES

Em teologia confundem-se, às vezes, alhos com bugalhos

Redação O Tempo

Por JOSÉ REIS CHAVES
Publicado em 11 de agosto de 2008 | 00:00
 
 
 
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Começo essa matéria, dizendo que, quando uma tese religiosa não é aceita por um grupo de indivíduos, isso não significa que esse grupo herege considere como sendo ignorantes os que se lhe antepõem. E o mundo atual tende para o pluralismo religioso, ou seja, a mistura geral das religiões. Aliás, todas elas têm verdades essenciais idênticas. E as pessoas estão ficando cada vez mais independentes dos seus líderes religiosos no seu modo de pensar. Assim, se herege é aquele que tem opinião, há uma tendência geral para as heresias.

Se, no Concílio Ecumênico de Trento (1545 a 1563), no lugar da Transubstanciação, tese teológica de são Tomás de Aquino baseada nos postulados filosóficos de Aristóteles, a contraproposta da Consubstanciação tivesse sido vitoriosa, como o queria uma parte dos bispos daquela época, a Igreja estaria livre, hoje, da grande dor de cabeça que ela tem com relação a esse seu mais polêmico dogma da Transubstanciação. O citado concílio é conhecido também como sendo o Concílio da Contra-Reforma da Igreja à Reforma de Lutero. Ele durou 18 anos, o que demonstra que houve muitas polêmicas antes que os bispos chegassem a um entendimento.

Como 90 % dos católicos, mesmo eruditos, ignoram a diferença que há entre Transubstanciação e Consubstanciação e os que sabem evitam falar nisso, farei uma síntese de ambas.A tese teológica da Consubstanciação, de um grupo de bispos católicos mais tolerantes com relação à teologia protestante do século 16, consistia em que a Hóstia, depois de consagrada, continua sendo farinha de trigo, mas que, metafisicamente, traz ao seu lado o Corpo de Jesus, e o Vinho, após a sua Consagração, continua sendo vinho, porém, metafisicamente, traz ao seu lado o Sangue de Jesus.

Já a da Transubstanciação afirma que, depois da Hóstia Consagrada, ela transforma-se ou transmuta-se no Corpo real de Jesus, e que o Vinho consagrado transforma-se ou transmuta-se no Sangue real de Jesus. Apesar de ter prevalecido a Transubstanciação, a maioria dos católicos pensa que a Igreja adota a Consubstanciação, a qual seria razoável perante a física moderna de Einstein e dos físicos quânticos, pois seria o metafísico ou a presença espiritual de Jesus, a qual não pode ser examinada em laboratório, ao lado do físico ou das espécies materiais do Pão e do Vinho consagrados, que podem, esses sim, subordinar-se a exames laboratoriais. Quem crê na Consubstanciação, é herege, às vezes sem o saber. É que a maioria dos católicos confunde de fato a teologia da Transubstanciação com a da Consubstanciação!

Muitos padres e bispos católicos têm suas dúvidas sobre a Transubstanciação, porém mantêm-nas em segredo. Daí eles não gostarem de abordar esse assunto em público, embora entre eles seja um tema quente, porém com a advertência na cabeça de que quem não aceitar esse e outros dogmas católicos não pode ser padre e menos ainda bispo ou, se já o for, não pode continuar sendo.

E assim, muitos deles aceitam a Transubstanciação porque são católicos, mas não são católicos porque crêem nela!

PS: 1) Agradeço aos Srs. Marinus Adrianus, Luciano Ribeiro e Marcos O. Monteiro os comentários sobre esta coluna. 2) Na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Parque de Exposições do Anhembi, no Box da Editora EBM, estarei autografando meus livros nas datas de 22 e 23 de agosto de 2008. Informações: e-mail atendimento@francal.com.br - Telefones (11) 2226-3100 e 2226-3200.

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