JÚLIO ASSIS

Manoel, Manga, Missões e Matias

Redação O Tempo


Publicado em 23 de setembro de 2013 | 03:00
 
 
 
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São três cidades irmãs no extremo Norte de Minas, nos conta manoeljornalista ou manoel sertaominas: Manga, São João das Missões e Matias Cardoso. Delas, Manoel nos sacia a qualquer momento nessa vida urbana, a saudade do sertão “nu e cru”, como ele descreve.

Em sua recém-criada página no Facebook – manoelsertaominas –, que acabo de conhecer, o prazer é semelhante ao de retornar aos escritos de Guimarães Rosa para nos reabastecer.
E não estão ali apenas belas fotos de paisagens que imaginamos sempre áridas. As imagens são parte de um extenso processo de pesquisa que envolve a avifauna, a resistência indígena e quilombola.


Manoel escreve que acentuou a partir dos últimos cinco anos, nesse retrato do sertão, seu trabalho de campo que soma “1.276 fotos de aves com rigor científico, sendo 180 espécies diferentes, número expressivo se levado em conta que o maior estudo já feito em mata seca do mundo, o Trop Dry, que reúne no Parque Estadual da Mata Seca, em Manga, Brasil, México, Canadá e Nova Zelândia, promoveu a captura de 148 espécies”

Ele também se dedica a documentar a tribo Xakriabá – 34 aldeias em São João das Missões, considerada a maior etnia em Minas – e quilombos, sobretudo o quilombo da Lapinha.
Matias Cardoso traz o encanto de ser a cidade mais antiga de Minas, com 55% de seu território ocupado por áreas de preservação ambiental.

No resumo de seus propósitos, Manoel diz que seu intuito é “conhecer sobretudo ambientalistas, jornalistas, professores, universitários, intelectuais, artistas, gente simples – daqui e dali – que enxergam a vida com os olhos do coração e não com a alma capitalista. (...) Trocando em miúdos, me defino como um bom soldado, daqueles que desconhecem perigos, empecilhos, quando saem de casa. Meu gosto é pelo front, pela linha de frente. É que, mineiro que sou, aprendi que para cima do perigo, nada melhor que a coragem”.

E ainda em relação às três cidades que são base de seu trabalho, ele explica: “procuro não apenas fotografar os lugares, a fauna, a flora, como – sobretudo – me inteirar, conhecer todo dia mais um pouco o compasso de sua gente”. E conta que decidiu criar a página no Facebook, “de modo a levar as imagens e informações a um número maior de pessoas, desta feita optando por textos mais curtos e imagens das diversas microrregiões do Norte de Minas”.

Em meio a paisagens do Parque Estadual da Mata Seca, em Manga, por exemplo, ele diz: “Há cinco anos, esse – sempre que posso – é o meu jardim”. Em suas andanças com a máquina fotográfica, ele flagra: “da mata ciliar do Rio Japoré, o ‘falso Martim-Pescador’. Na verdade, um beija-flor da espécie Ariranda-de-Cauda-Ruiva”. Outro flagrante: “Da divisa com São João das Missões, terra do Povo Xakriabá, um dos menores exemplares do mundo da rapinagem, o Acauã”. Em Matias Cardoso: “Das montanhas da cidade mais antiga de Minas, retrato do Guariba, o macaco uivador”.

No trecho entre Itacarambi e Januária, uma árvore parece nascer do asfalto, e Manoel define.

“Imagem concebida com filme (fotográfico), à moda antiga, mas que imortalizou a paisagem em que a Barriguda (a árvore) dava impressão de ter brotado na BR-135. Há dois anos, foi cortada ao meio. Hoje, milagrosamente, brota outra vez”.

Alvorada e crepúsculo às margens do rio São Francisco, rostos indígenas, festas populares, obras artesanais, garça-vaqueira, corrupião, carcará, cardeais do Nordeste, gavião carijó, ala de aroeira, oito troncos de pé de gabiroba; a seta do teclado do computador desce a trazer incessantes descobertas.

Manoel convida: “Que todos se sintam em casa, em casa sertaneja, com certeza”.

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