JÚLIO ASSIS

Neblinas e palmeiras

Redação O Tempo


Publicado em 08 de setembro de 2014 | 03:00
 
 
 
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Até onde conheço, que não é muito, desconheço um lugar para se isolar tão bruscamente no clima como Ouro Preto. Já havia experimentado isso outras vezes, há muitos anos, e revivi no fim de semana, não neste que acaba de escapar, mas no anterior. De Belo Horizonte, de onde saímos pela manhã de sexta-feira com um clima ameno, a Ouro Preto, são apenas 96 quilômetros. Após Cachoeira do Campo, 76 quilômetros de asfalto depois, a temperatura virou a declinar, e do trevo de acesso à cidade histórica já se via a neblina que dominava a paisagem. Isso por volta do meio-dia de um fim de agosto. À meia-noite, a sensação era quase como andar no meio de nuvens. O espetáculo de caminhar por Ouro Preto entre neblina vem sublinhar a experiência de imaginá-la nos tempos de Colônia.

Viajei até lá para acompanha<CS9.1>r a abertura do festival de música instrumental Mimo, que naquela sexta-feira teria dois shows, do guitarrista Toninho Horta e do pianista Chick Corea. Pena que o segundo não chegou, depois de ficar retido na Argentina (onde havia se apresentado) em decorrência de uma greve geral em Buenos Aires. “Os argentinos, sempre eles para nos atrapalhar”, foi o que muito se ouviu nas ladeiras ouro-pretanas, mais em tom de brincadeira em torno da eterna rivalidade, pois no fundo, vá saber as dificuldades que eles estão passando, mais do que cá, que não são poucas.

Quem conhece Toninho sabia que ele não iria decepcionar. O Horta esbanjou virtuosidade se alternando entre o violão e a guitarra, acompanhado de sua experiente Orquestra Fantasma, nome bem apropriado para a enevoada Ouro Preto àquela hora.

O competente e inspirado Mimo teria outras atrações nos dias seguintes, mas por motivos profissionais eu precisava retornar. Novamente saí da cidade histórica sob neblina, depois das 11 da manhã, agasalhado, para depois de Cachoeira do Campo precisar tirar a blusa pelo calor.
Já na noite de sábado, foi a vez de andar pelo centro de Belo Horizonte para acompanhar um pouco da Virada Cultural. Na área externa do Sesc Palladium, só quem chegou um pouco mais cedo conseguiu assistir ao show da cantora Céu, tal era o número de pessoas presentes.

Na caminhada dali até a praça da Estação, onde acontecia uma série de shows (naquele momento, o de Aline Calixto), a cidade parecia viver uma noite de Carnaval, centenas de pessoas circulando para todos os lados em clima de festa. No percurso, a praça Sete abrigava diferentes manifestações, e, já na praça da Estação, o imenso espaço estava tomado por um público de todas as faixas etárias, que se divertia.

A rota seguinte era em direção à Guaicurus, que reuniu possivelmente a plateia mais eclética da Virada em torno de shows como o de Márcio Greyck, Marcelo Veronez cantando Roberto Carlos, e o impagável Tom Zé, pelo qual valeu esperar até o meio da madrugada, já com os presentes se acotovelando para vê-lo.

Em 24 horas de atrações, a Virada foi democrática na programação e também ao abrigar manifestações políticas como ocorreu em torno do movimento Resiste Isidoro, que marcou posição em diversas ações, entre elas um Queimão Fotográfico, em que fotos foram leiloadas com renda para as pessoas dessa ocupação de famílias na granja Werneck, na região Norte da capital.
Ocorreram problemas de violência, fatos concretos que pedem melhorias da segurança para as próximas Viradas.

Por agora, melhor mirar ações de cidadania, como a iniciativa PlantAções, realizada também na Virada, na alameda das Palmeiras, em frente à praça da Estação. Reuniu moradores de rua e profissionais da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social na confecção de um tapete de flores feitas a partir de materiais reaproveitáveis e serragem. Os criadores da obra, que chamou a atenção de todos os que passavam por ali, partiram da proposta da artista plástica Dulce Couto, de plantar um jardim com materiais que antes iam para o lixo. E, além da beleza estética, dentro do tapete frases abordavam a temática dos direitos humanos de forma lúdica e atrativa. Outra expressão que ouvi nesta semana sintetiza isso, inclusão pela cultura. 

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