Nos falamos pelo FaceTime, todos os dias, todas as horas... Ela, minha melhor amiga, “presa” na Bahia, e eu, no momento em que escrevo, no escritório de casa.
Conta que tem vontade de ir à praia, assim como os nativos da cidadezinha que escolheu para morar, mas os guardas municipais, atentos às regras vigentes, proíbem.
Só sai para o supermercado, padaria e farmácia. Pisa nas ruas de terra, respira a maresia, tira foto dos micos nas árvores, alguns mais atrevidos que adentram a sua cozinha.
Trabalha em home office. Mas o trabalho foi minguando aos poucos, até praticamente estagnar. Preocupa-se em como vai pagar as contas da pousada que há poucos meses decidiu arrendar.
Empolgada com o novo desafio, contratou, investiu, reformou, até que, de repente, tudo mudou. Vivendo do turismo, a cidade fechou suas portas. Nenhum paulista, nenhum mineiro, nenhum gringo apaixonado que, chutando o balde, acabava se firmando por lá.
Uma comunidade diferenciada, alternativa, com seus conterrâneos, índios nativos, jovens, hippies, gringos e aposentados idealistas. Com suas lojinhas artesanais, barracas de coco e milho-verde, carrinhos de acarajé, cangas coloridas, vira-latas bem cuidados, mesas na areia, lindas pousadas, igrejinha na falésia, sobre a imensidão do mar azul.
Nenhuma perspectiva de um retorno próximo. Os moradores se ajudam, compartilhando bolos, pães, produções caseiras. Não compreendem a dimensão do problema que despencou sobre suas cabeças.
O pescador já não pesca tanto, o consumo de peixes e mariscos caiu, pousadas e lojas fechadas, e aqueles tantos turistas, com suas vestes coloridas que sustentavam o local, simplesmente sumiram.
Ao longe o barulho do mar, enquanto a brisa constante abraça os coqueirais, como a dizer para as pessoas simples e humildes da cidadezinha: “Calma, gente! Calma, que isso vai passar!!!”
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