Passei a minha adolescência e a juventude adorando o Carnaval, com direito a blocos, clubes do interior, fantasias, mistura de bebidas e algumas besteiras provocadas por elas, que me faziam querer sumir na Quarta-Feira de Cinzas.
Carnaval era ótimo para arrumar novas paixões, fugazes e passageiras, como eram os dias dedicados a elas. Pior, geralmente por alguém de longe, já tendo a certeza de que “tudo, tudo, iria se acabar na quarta-feira”. Nunca mais o garoto de preto e cabelos longos. Nós voltávamos, e eles ficavam em suas cidades de origem. Quem sabe um dia... Talvez no vestibular – estudar na capital era quase um destino certo. Bobagem! Esse dia não chegava nunca, era mais fácil e rápido esperar pelo próximo, mas até lá outras paixões já ocupavam os pensamentos. Afinal, naquela idade elas surgiam como tsunamis: imediatas e devastadoras. E o menino da roupa preta sumia como bruma no entardecer do esquecimento.
E pensar que hoje desligo a televisão para não saber de Carnaval. Os refúgios me atraem, silenciosos e tranquilos, como aquele no qual, por ora, me encontro. Um lugar para longas caminhadas ao entardecer, ao lado de meu companheiro; uma mesa redonda, em que, com a família, são disputadas intermináveis partidas de buraco; um lugar para compartilhar a alegria quase infantil de nossa “pit-lata” que, de vez em quando, viaja conosco. Pipoca, brigadeiro de colher, água de coco, um livro fascinante, silêncio; coisas simples e pequenas que desintoxicam o corpo e a mente.
Telefono à minha mãe em BH para ter notícias, e ela me conta da beleza das escolas de samba.
– Filha, liga a TV, que está maravilhoso!
– Mãe, não pretendo ver o desfile. Que bom que está lindo e você está gostando!
E sequer me espanto com as notícias nos jornais, como aquela da modelo que em outros Carnavais, no meio da passarela, resolveu tirar a roupa, até ser “impeachmada” por integrantes de sua escola.
Apesar dos empecilhos, ela teve seus tão desejados 15 minutos de fama. Como aquela outra que, com quatro centímetros de “tapa-nada”, provavelmente colado com cola Pritt, o deixou cair. Quis aparecer e apareceu, ela e seus “atributos”. Longe de mim ser puritana, mas tem coisas que sinceramente...
Quando este texto for publicado, o Carnaval já terá acabado. Espero que a turma da muvuca tenha se divertido bastante. E que aqueles que são como eu tenham usufruído de bons livros, boas músicas, ótimas caminhadas e um merecido descanso.
Agora é mãos à obra, concentração, trabalho e sacrifícios, pois o ano no Brasil, finalmente, começou. E ele não está para brincadeira.