Laura Medioli

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Laura Medioli é escritora e presidente da Sempre Editora, responsável pela publicação dos jornais Super, O TEMPO e O Tempo Betim, além da rádio FM O TEMPO e do portal O TEMPO. Formada em estudos sociais, Laura já atuou como professora e se dedica de forma intensa hoje à causa da proteção animal.

LAURA MEDIOLI

No mesmo barco

Confesso que já estava exausta com essa campanha. WhatsApp, Facebook, e-mails, imprensa, fake news, nada nos dava sossego

Por Laura Medioli
Publicado em 11 de novembro de 2018 | 04:30
 
 
 
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Até que enfim, o término da pancadaria. Daqui a pouco, ano novo, vida nova, presidente novo, e seja lá o que Deus quiser!

Confesso que já estava exausta com essa campanha. WhatsApp, Facebook, e-mails, imprensa, fake news, nada nos dava sossego. A meu ver, a única coisa boa foram as piadas, saídas de mentes férteis em pleno estado de tensão. Impressionante como os brasileiros são bons nisso. Não estou falando aqui de fake news ou mensagens e charges feitas para denegrir pessoas e biografias; falo da inspiração humorística que renasce nos brasileiros nos momentos controversos.

Um exemplo? Copa do Mundo de 2014. No meio do 7 a 1, já brotavam nas redes sociais as mensagens mais hilárias, feitas em tempo recorde, sobre o desastre que se abateu sobre nossa seleção. Choros? Desespero? Que nada, o negócio foi tão surreal, que o jeito foi levar na brincadeira. E foi o que nós fizemos com maestria.

Só que política é coisa séria, não dá para brincar. O pior é que, mais do que brincar, o povo resolveu brigar. E tinha até gente dizendo que, depois das eleições, o almoço de domingo ia se chamar “audiência de reconciliação”.

Discussões acaloradas, mentiras deslavadas de ambas as partes, compartilhadas por desavisados, ou mal-intencionados. Resultado: um país ainda mais dividido, embora estejam todos no mesmo barco.

Espero que com o passar do tempo os ânimos se acalmem e os decibéis abaixem. Que os parentes voltem a se falar, que os amigos esqueçam as palavras ácidas, os desaforos colocados ao pé da letra, discussões por mensagens ou mesmo cara a cara.

Enfim, a campanha mais controversa e fora dos parâmetros terminou. Tida como a mais curta da história do país, foi também a mais conturbada, com direito a facada, assassinato, agressões físicas e verbais. E a gente no meio da confusão, não vendo a hora de acabar tudo isso, afinal, precisávamos nos recompor da energia ruim que pairava no ar.

E fico aqui pensando: o Brasil é um abacaxi tão grande, e ainda tem gente brigando para descascá-lo? Menos mau que seja assim; se não fossem esses corajosos candidatos, postulantes a enfrentar tantos desafios, a coisa poderia ser pior.

Alguns deles, legítimos caras de pau, sem a mínima chance de sair do lugar; outros bons, mas que não souberam captar nem falar a linguagem popular; outros polêmicos; um indicado de peso; os de sempre, dando os seus recados; uns mais estourados; outros mais comedidos; uns com muito dinheiro, outros sem nenhum; uma única mulher, corajosa, de fibra, mas que já não correspondia aos anseios da população.

Primeiro de janeiro nos aguarda. Novidades virão; medidas impopulares, evitadas nos governos anteriores, por medo de se indisporem com a população, devem ser tomadas, pois não tem mais como fugir delas.

O país em plena recessão, com o desemprego em níveis exorbitantes, um monumental déficit da Previdência, um Congresso “verde”, cheio de gente sem noção, como aquela senadora eleita pelo Distrito Federal, que sequer sabia explicar a necessária reforma da Previdência, dizendo que iria consultar a população.

Também alguns poucos idealistas, não contaminados pelo poder. Uns radicais, outros religiosos, sindicalistas, ruralistas, fichas-sujas, fichas-limpas e os demagogos de sempre.

Um Congresso com caras novas que desconhecem os trâmites da Casa; até aprenderem, se passarão meses, enquanto determinadas medidas têm urgência e demandam conhecimento. Além do mais, haverá uma oposição ferrenha que, provavelmente, votará contra tudo. É esse o ambiente que o capitão Bolsonaro terá pela frente.

O que nos resta é torcer para que dê certo. Se conseguir reduzir a corrupção – bandeira que ele abraçou –, já terá sido um grande feito. Vê-lo tocar a embarcação, contemplando a todos, com responsabilidade, sem bravatas, sem loucuras e com gente competente no leme, é o que queremos. Afinal, estamos no mesmo barco, e, apesar das avarias no casco, ele não pode afundar.

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