Sabe o perrengue que passei no aeroporto de Milão, sem a minha mala, que não foi entregue pela TAP? Pois é, após passar a noite no hotel do aeroporto, peguei um táxi e segui para Parma. Contei a história ao gentil motorista que me atendeu.
 
Com a roupa de dois dias antes e os cabelos espetados, já que dormi com eles molhados, o homem imediatamente se solidarizou. No meio do caminho de uma viagem de duas horas, olhando pelo retrovisor, ele não teve dúvida: “A senhora já tomou café?” E eu, com cara de anteontem, me dei conta de que estava com fome e que um cappuccino seria maravilhoso! Paramos na primeira lanchonete da estrada. Na hora de pagar, descobri que o senhor já havia pagado. “Ai, Deus! Será que ele entendeu que o que ficou no aeroporto de Lisboa foi a minha mala, e não minha carteira? Será que minha cara está assim tão de coitada que ele, com pena, não me deixou sequer pagar o café?” 
 
Finalmente, cheguei à casa dos meus cunhados, onde deveria estar desde o dia anterior. Minha filha, genro e netinha me aguardavam para seguirmos de carro até o hotel em Massa, próximo de Florença. Com a família, numa estrada maravilhosa, me senti renovada. “Chegando lá eu dou um jeito, afinal, o casamento da minha sobrinha, motivo da minha ida à Itália, seria dali a dois dias, e eu, além de um vestido para festa, precisaria de camisetas, camisola, calça jeans, tênis etc., etc.” 
 
O hotel era lindo! Construção antiga, ainda do tempo dos Médicis. 
 
Subi com minha bolsa e meus novos pertences: uma camiseta em que estava escrito “I love Milano”, dois sabonetinhos, um xampuzinho e um creminho hidratante, amostras do último hotel. Para quem estava sem nada, isso já era um começo. E fui para o quarto da minha filha inspecionar sua mala. Algumas roupas dariam em mim, até porque ela estava grávida. Um vestidinho colorido meio curto, mas paciência, uma camisetinha básica, uma sandália baixa e duas calcinhas, digo, calçonas de gestante, de cor bege e que vão até o umbigo. “Nunca me senti tão sexy!!!”, ri, sozinha, em frente ao espelho, após um relaxante banho. 
 
No dia seguinte, Florença, lá vamos nós!!! Pelo GPS de malas que minha filha havia me emprestado para a viagem, pude ver, desanimada, que a minha, apesar das trocentas reclamações, ainda estava em Lisboa. Pelo celular continuava insistindo nas ligações do número fornecido pelo aeroporto: musiquinha, robôs e interrupções do nada. E o que eu mais queria era alguém em carne, osso e ouvidos que me escutasse. 
 
Lembro-me de que, no aeroporto de Milão, no setor de reclamações, preenchi um documento anotando o meu endereço de casa e os dois primeiros locais de minha estadia na Itália. Nem preciso dizer que deu tudo errado. Quando me dei conta de que a mala ainda estava em Lisboa, comecei a fazer as contas. “Até ir pra Milão e de Milão para cá, eu praticamente já estarei retornando. Aí lascou!” Tinha de avisar que nessa altura do campeonato ela já não me serviria mais e que, por segurança, era melhor que retornasse ao Brasil, pois a chance de nos desencontrarmos era enorme. Pois é, mas para quem avisar? Na próxima musiquinha que eu escutasse, atiraria o celular pela janela. 
 
No quarto dia, a mala chegou a Milão! 
 
– Geeente, minha mala chegou! Ela chegou!!! 
 
“Calma, Laura! Chegou a Milão, a exatamente cinco horas de carro de onde você se encontra”, pensei com meus botões. 
 
Até que consegui ligar para a TAP em Portugal, relatando a situação. 
 
– Gostaria de deixar registrado que quero minha mala de volta ao Brasil. 
 
– Pois, pois, tudo anotado. Sem problema. 
 
O alívio durou pouco, até descobrir que minha mala começou a passear pela Itália.  
 
– Mas que diabo eles estão fazendo? Eu avisei que era para ela voltar pro Brasil? – No dia seguinte, começou a passear de novo, a danada passeou mais na Itália do que eu! Droga!!! 
 
Saímos do hotel em Massa para o hotel/vinhedo do casamento, na própria Toscana.  
 
Em Florença, debaixo de um pé d’agua, minha única calça jeans e mocassim se encharcaram. Deixamos minha neta com o pai, e fui com minha filha comprar roupas, no meio do centro turístico. 
 
– Nada de “I love Firenze”! Preciso de roupa de verdade, inclusive uma para o casamento. – E entramos na primeira Zara que encontramos no caminho. 
 
M...! Em vez de visitar os incríveis museus da cidade, estou aqui, encharcada, cercada de mulheres falando ao mesmo tempo, procurando algo para vestir. 
 
– Filha! Olha esse aqui. Tudo bem que é de algodão, mas é longo e tem a estampa bonita, o que você acha? 
 
– Ah, mãe! Acho que está bom! Não é o vestido ideal para um casamento, mas é o que tem, né? 
 
Faltava a sandália, rodamos até encontrar uma que combinasse com o vestido. Nisso, lá se foi uma tarde inteira perdida em Florença. 
 
No primeiro dia no novo e belíssimo hotel, os noivos ofereceram uma deliciosa “noite de pizza”. As mulheres com seus vestidos florais, e eu com o meu. O que não estava muito legal era o cabelo, já que o xampu caríssimo que comprei para a viagem tinha ficado na mala. O hotel, com suas propostas meio naturebas, oferecia aos hóspedes um xampuzinho de mel orgânico. Como assim? As abelhas são orgânicas? 
 
Legal essa proposta alternativa, mas dizer que aquilo deixava os cabelos brilhantes e sedosos era outra história, e o que já estava ruim ficou pior!   
 
No dia seguinte, o tão esperado casamento! MA-RA-VI-LHO-SO! A noiva belíssima, os convidados chiquérrimos, as mulheres de brilhos e sedas, e eu lá, com meus cabelos duros de mel orgânico e o único vestido; sim, o mesmo da noite anterior.  
 
Mas, como já havia dito, o jeito foi ligar o f... e curtir as companhias, os vinhos e o astral do lugar. E pedir a Deus que, depois que minha mala passeasse bastante, aquela danada, retornasse intacta a casa.  
   
 
 (Continua na próxima crônica)