Há cerca de um mês, num shopping de BH, deparei-me com algumas vitrines com motivos natalinos. Levei um susto, afinal, o fim de ano já estava ali, batendo à nossa porta, com todos os apelos comerciais que surgem na ocasião.

– Putz! – pensei encabulada. O fim de ano já chegou? Como assim, se outro dia mesmo estávamos nos organizando para 2018? Um ano complicado, que nos pedia mudanças, contenções de despesas no trabalho, ajeitar as coisas na medida do possível, tentar levantar o astral nosso e dos outros. Um ano eleitoral com previsíveis embates.

E o Papai Noel da vitrine, movido a pilhas, sorridente e falando “Ho-ho-ho”, me coloca de sobreaviso.

E fico pensando: será que na maturidade essa sensação de rapidez com que o tempo passa é maior que nos jovens? Com certeza, afinal, nunca escutei de um jovem a frase “Esse ano voou!”

Jovens têm todo o tempo do mundo pela frente, talvez por isso não se preocupem muito em como gastá-lo.

E assim vão seguindo, com suas preocupações, que cabem num caixote, enquanto adultos as têm depositadas em contêineres. E estes aumentam ainda mais, quando pensam que talvez não tenham tempo ou condições para se desfazer deles.

Bobagem! No final das contas partimos sem levar nada. Com o passar das gerações, não seremos nem retratos esquecidos no fundo de uma gaveta, até porque eles não mais existirão.

E vamos nos apercebendo de que ninguém neste mundo é insubstituível. Mas não é por isso que devemos passar incógnitos em nossas vidas, sem deixar uma marca, um registro, um feito positivo, uma obra, nem que seja pequena, mas que seja útil.

As boas ações têm um poder duplicador. O bem gera o bem, incentiva, faz crescer, dá esperança, acolhe, ilumina e deixa a sua marca.

Arrumando estantes do meu armário, com suas muitas caixas que nunca tive coragem de me desfazer, encontro fotos antigas da família: minha avó no dia de seu casamento. A cara igual à da minha tia... Será que é a tia? Separo, para perguntar depois à minha mãe.

As fotos estão desgastadas, amarelas. Aproveito para fotografá-las e compartilhá-las no grupo de WhatsApp da família. Meus irmãos têm de saber como era a nossa avó no dia em que se casou. Ou a tia, sei lá...

Das caixas gigantes vão despontando surpresas, cartinhas de infância que eu e meus irmãos escrevíamos aos nossos pais. Também merecem ser fotografadas e ir para o grupo, a fim de lembrarmos como éramos felizes e engraçados naqueles maltraçados rabiscos, com seus erros gramaticais e uma imensidão de amor.

E no meio dos escritos, um poema do meu avô paterno. Não cheguei a conhecê-lo, nasci depois que ele morreu. Aliás, não conheci nenhum dos dois, o pai de minha mãe faleceu uma semana antes que eu nascesse.

Meus dois avôs eram escritores, o paterno escrevia poesias, o materno escrevia romances, entre eles um premiado, que há muitos anos li. Queria mostrá-lo às minhas filhas, já adultas, mas entendo que não teriam tempo nem muito interesse em saber da história, quase biográfica, daquele “Menino Feliz!”, nome do livro premiado de meu avô Paulo. Para elas, um bisavó distante, que sequer reconheceriam nas fotos em sépia.
 
Pois é, 2019 está aí, batendo às nossas portas. O tempo voou, pensei mais uma vez com meus botões. E eu aqui, olhando a chuva que cai no jardim. Aquele barulhinho gostoso... e o cheiro de terra molhada.

Penso nos retratos, nos meus antepassados... E agradeço-lhes pela minha existência. Vou vivendo, deixando minhas marquinhas, registros de alguém que partirá um dia, feliz por ter vivido com intensidade e retidão a vida que Deus tão generosamente lhe deu.