Laura Medioli

Laura Medioli

Laura Medioli é escritora e presidente da Sempre Editora, responsável pela publicação dos jornais Super, O TEMPO e O Tempo Betim, além da rádio FM O TEMPO e do portal O TEMPO. Formada em estudos sociais, Laura já atuou como professora e se dedica de forma intensa hoje à causa da proteção animal.

LAURA MEDIOLI

Um tiro errado

Redação O Tempo

Por Laura Medioli
Publicado em 21 de maio de 2015 | 03:18
 
 
 
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Se me perguntarem se sou a favor da maioridade para jovens de 16 anos, digo que não.
E, provavelmente, alguém me questionará: isso porque nunca sofreu na mão de algum pivetão. Nunca foi assaltada, violentada, drogada, ou seja lá o que for, por um “de menor”.

Não, apenas fui roubada por alguns trombadinhas, quase crianças, que se penduraram no meu pescoço para tirar uma correntinha de ouro, presente de minha mãe.

Leio em um relatório do Unicef que, dos 21 milhões de adolescentes brasileiros, apenas 0,013% cometeram atos contra a vida.

E, sem precisar de dados, diria que, nas estatísticas da violência, crianças e adolescentes são muito mais vítimas que culpados.

Segundo o relatório, somos o segundo país, em números absolutos, onde mais se pratica violência contra a infância e a juventude até a idade de 19 anos. Uma vergonha!

É muito fácil e até compreensível, para quem nunca viveu de perto a realidade de um jovem delinquente de 16 anos, julgá-lo. Um que vem sofrendo abusos e descasos desde a mais tenra idade, às vezes, a partir do próprio ventre de uma mãe drogada e espancada com frequência pelo companheiro.

Crescendo em ambientes degradantes, nunca teve bons exemplos a seguir. Ainda criança, abusado pelo vizinho ordinário ou dentro da própria casa, por padrastos ou parentes que, com ameaças, instigam o medo que cala.

Largados à própria sorte, sem estrutura familiar, sem uma creche ou escola decente que lhes dê suporte, alimentação escassa, peles com dermatites, cabelos com piolhos, corpos sem carinho. Governos que tapam os olhos. Queriam o quê?

Já com 10, 11 anos, começam a ser ameaçados pelo tráfico. A mãe não tem muito o que fazer. O filho não quer, ela muito menos, mas o sistema obriga, pois, se o garoto negar ou tentar escapulir, apanha, sofre retaliações, ameaças de morte, dele ou de alguém próximo. E aí entra o medo novamente, calando-os, jogando-os num precipício de difícil saída. “Aviõezinhos” em voo cego e incerto.

Mas não quero ficar aqui dissertando sobre situações que vi de perto durante os mais de dez anos em que trabalhei em vilas e aglomerados carentes da região metropolitana.

Não é essa a questão. O buraco é mais embaixo, e as causas primordiais desse emaranhado de problemas, em que os índices de criminalidade são alarmantes, parecem ignoradas. Sabemos que a desgraça das drogas, junto com a saúde, aparece entre as principais preocupações da população, mas, se analisarmos os orçamentos públicos, veremos apenas ninharias destinadas a enfrentá-la.

Não existe uma preocupação especial dos governantes. Naturalmente, sem essa consciência do tamanho da gravidade, ela tende a piorar.

Não estou aqui defendendo jovens delinquentes, apenas tentando explicar que eles merecem uma atenção especial. Vítimas desde sempre, sem terem tido uma estrutura familiar e educacional lhes servindo de base, é natural que descambem para a criminalidade, muitas vezes, em decorrência da droga que precocemente bateu às suas portas.

Um Brasil sem drogas provavelmente seria bem menos violento do que é hoje, pois não tenho dúvida de que nove em cada dez eventos criminosos encontram-se ligados ao tráfico.
Querer colocar menores junto com adultos é preocupante. Penitenciárias, definitivamente, nunca foram locais de ressocialização. Jovens com potenciais dissipados pela falta de oportunidade, ali, não irão se recuperar, muito pelo contrário, sairão prontos e aperfeiçoados para a criminalidade, movidos por uma enorme sensação de injustiça.

Também tem outra questão, se derem maioridade a um garoto de 16 anos, lhes pergunto: será que a partir daí não passarão a usar os de 14 e 15 anos? Dando-lhes uma arma, pedras de crack e cobertura para os atos criminosos? Ou acreditam mesmo que deixarão os menores em paz?
Insisto e persisto em dizer: nossa guerra é contra as drogas!

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