A crise na Venezuela se estende de maneira sem limites, chegando ao futebol e, claro, à Copa Libertadores. Na última semana, com a não chegada do Deportivo Lara a Belo Horizonte, começou um debate muito forte sobre a participação ou não dos clubes do país nas competições continentais, organizadas pela Conmebol. E, para completar, a última rodada do Campeonato Venezuelano foi adiada devido à falta de condições para a realizações de partidas – seja ela ausência de água ou energia elétrica.
Ao que parece, a Confederação Sul-americana tenta trabalhar pelo lado diplomático, mas acaba ferindo seus estatutos e, principalmente, seus próprios clientes. É inaceitável que interferência política consiga atrapalhar todo planejamento de equipes que nem sequer têm a ver com a crise política que alastra o país. Não falo só do Cruzeiro, mas também do Emelec-EQU, que se viu preso em Cabudare após seu jogo ser adiado para o dia seguinte, durante a tarde, em função do apagão que assolou a Venezuela.
O silêncio ensurdecedor da Conmebol em relação à realização ou não do duelo entre celestes e Lara foi absurdo. Muitos torcedores da Raposa só souberam que não teria a realização da partida apenas no dia da peleja, na última quinta-feira. Os prejuízos televisivos, de logística e aos patrocinadores foram incalculáveis. Este fato coloca a entidade na mira, tendo em vista os acontecimentos que mancharam a Libertadores, com os distúrbios em Buenos Aires no fim de 2018 para a decisão entre Boca Juniors x River Plate.
Eliminar os clubes da Venezuela, tanto na Copa Libertadores quanto na Copa Sul-Americana, já me parece uma medida mais aceitável. Mandar os duelos para outros países – muito se fala de Manaus, inclusive – seria outra, mas não garantiria a realização do compromisso pelo mesmo problema da última semana. Quem garante que a equipe chegará ao seu destino? Sendo assim, a atitude enérgica seria mais aceitável e daria aos outros 30 times mais tranquilidade. Hoje, ir até a Venezuela como estrangeiro é uma missão crítica.
Outra coisa que precisa ser esclarecida é a distinta situação do Lara em relação ao Zamora. O clube de Barinas conseguiu chegar até o Paraguai para encarar o Cerro Porteño sem grandes dificuldades. Muito se fala que o adversário do Atlético no grupo E do Continental possui mais trânsito na política nacional em função de ter dirigentes ligados ao Chavismo, que impera no comando de Nicolas Maduro. Já o rival do Cruzeiro, que não tem a mesma força, não teve a vida facilitada em momento algum e nem sequer conseguiu entrar no avião para jogar no Mineirão. Nesta altura do campeonato, eu jamais duvidaria de qualquer problema ligado exclusivamente à ditadura.
O que cobro aqui é que, por mais que exista a diplomacia e que os próprios clubes talvez sejam vítimas do calabouço político, o restante do continente não pode pagar por uma grave crise interna de uma ditadura que nada tem a ver com os valores pregados pela democracia. Se é assim, infelizmente, a decisão precisa ser tomada de maneira séria. A Libertadores não se levantaria após mais uma crise deste nível.