Acabo de conhecer um dos melhores restaurantes da Argentina. Foi necessário topar com o fim do mundo para extrapolar a parrilla! Brincadeirinha à parte, o fato é que fora de Buenos Aires o cardápio é bem limitado e a carne reina absoluta, quase sempre assada e acompanhada de batatas.
O cordeiro patagônico vinha sendo a opção preferencial dos últimos dias. Só que ele vem na chapa do mesmo jeito e não sei porque é anunciado com tanta pompa, como se houvesse uma criação gastronômica a festejar.
A passagem pelo Chile, de inegável vocação marítima, mudou, sim, o elenco de opções, mas de cozinha chilena falarei em outro artigo.
O assunto de hoje é o estabelecimento da Tia Elvira que me fez lembrar o da Tia Palmira, de Pedra de Guaratiba, pertinho do Rio, o qual pode e merece ser visitado pelo leitor, mais facilmente, convenhamos.
Estou em Ushuaia, onde o vento só faz a curva porque as montanhas o obrigam a isso, protegendo a bela cidade, situada numa baía tranquila, junto ao canal de Beagle. A propósito, agora sei porque aquele cachorrinho, celebrizado na figura do Snoopy, chama-se beagle...
Nunca imaginei encontrar tantos de uma vez, nem ventania como a que varre a Terra do Fogo, desde o estreito de Magalhães.
O carro precisa ter seu curso corrigido a cada guinada e, quando a gente resolve fotografar um guanaco " o camelinho patagônico " ema, ou raposinha cinzenta, é perigoso abrir a porta de uma vez: corre-se o risco de ficar sem ela.
Palmas para o bravo português Fernão, que teve muita coragem na travessia dos agitados mares do sul em sua casquinha de noz! Na noite anterior, havia conferido o bom Marcopolo, na rua mais central, a San Martín " o que aliás se repete em quase todo o município, já que foi ele o responsável pela independência argentina.
É o restaurante do hotel Cap Polonio e vale uma visita quando você vier aqui. Peça mexilhões a provençal e rabas (anéis de lula) fritas, ambos deliciosos.
O almoço no Tia Elvira deixou clara sua supremacia, graças à atmosfera charmosa, a vista para os transatlânticos no porto, boa parte deles com destino antártico, ao atendimento eficiente e simpático e, principalmente, graças a excelente comida.
Os mozos " garçons " na Argentina não costumam alertar para comandas exageradas. Ao contrário, insistem para que se peça entrada e prato principal. Por isso estranhei quando o criterioso negro peruano me alertou: seria comida demais, se eu insistisse no salmão defumado como entrada.
Fiquei só com a cazuela de arroz de mariscos e não tive como pedir sobremesa. Vieiras, camarões grandes, mexilhões, inclusive um grandão que não conhecia, lulas, sem falar numa pua de caranguejo impressionante.
As centollas em Ushuaia são simplesmente enormes e saborosíssimas, lembrando as maiores e melhores lagostas que você possa ter visto, mas com pinta de caranguejo!
O tempero estava perfeito, com açafrão legítimo, aroma suave de alho e cebola, pitadas de páprica e salsinha. De comer rezando, para depois pagar preço decente, na faixa de R$ 40 o prato. Hasta pronto!