LEONARDO BOFF

A bomba atômica de Hiroshima e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro

A bomba atômica de Hiroshima e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro


Publicado em 17 de junho de 2016 | 03:00
 
 
 
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No dia 6 de agosto de 2016, às 20h, se inaugurarão os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. No mesmo dia será recordada em Hiroshima, no Japão, a nefasta data do lançamento da bomba atômica sobre a cidade que vitimou 242.437 pessoas.

O imperador Hirohito reconheceu, no texto de rendição, publicado em 14 de agosto de 1945, que se tratava de “uma arma que levaria à total extinção da civilização humana”. Dias após, ao aduzir, numa declaração ao povo, as razões da rendição, a principal delas era que a bomba atômica “provocaria a morte de todo o povo japonês”. Em sua sabedoria ancestral, tinha razão.
A humanidade estremeceu. De repente deu-se conta de que criamos para nós próprios o princípio de autodestruição. Mas, com efeito, de pouco valeu o estarrecimento, pois continuaram a desenvolver armas nucleares mais potentes ainda, capazes de erradicar toda a vida do planeta e pôr um fim à espécie humana.

Atualmente, há nove países detentores de armas nucleares que, conjuntamente, somam mais ou menos 17 mil unidades. E sabemos que nenhuma segurança é total. Os desastres de Tree Islands, nos Estados Unidos, de Chernobyl, na Ucrânia, e de Fukushima, no Japão, nos dão uma amostra convincente.

Há dias, pela primeira vez, um presidente norte-americano visitou Hiroshima. Obama apenas lamentou o fato e disse: “A morte caiu do céu, e o mundo mudou. Começou nosso despertar moral”. Mas não teve a coragem de pedir perdão ao povo japonês pelas cenas apocalípticas que lá ocorreram.

Vigora uma vasta discussão mundial sobre como avaliar tal gesto bélico. Muitos, pragmaticamente, afirmam que foi a forma encontrada de levar o Japão à rendição e poupar milhares de vidas de ambos os lados. Outros consideram o uso dessa arma letal, na versão oficial japonesa, como “um ato ilegal de hostilidade consoante às regras do direito internacional”. Outros vão mais longe e afirmam tratar-se de um “crime de guerra” e até de “um terrorismo de Estado”.

Hoje, estamos inclinados a dizer que foi um ato criminoso antivida, de nenhuma forma justificável, pois, pensando em termos ecológicos, a bomba matou, muito mais do que pessoas, todas as formas de vida vegetal, animal e orgânica, além de bens culturais. Tratou-se de uma “totaler krieg” (guerra total) no estilo nazista de matar tudo o que se move e dizimar as bases físico-químicas que sustentam a vida.

Ao lado de outras ameaças letais que pesam sobre o sistema vida e o sistema Terra, a nuclear continua sendo uma das mais amedrontadoras, verdadeira espada de Dâmocles colocada sobre a cabeça da humanidade. Quem poderá conter a irracionalidade da Coreia do Norte de deslanchar um ataque nuclear avassalador?

Há uma proposta profundamente humanitária que nos vem da Associação dos Sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, de São Paulo, animada pelo militante contra a energia nuclear Chico Whitaker: que no dia 6 de agosto, no momento da abertura da Rio-16, faça-se um minuto de silêncio pensando nas vítimas de Hiroshima. Mas não só, mas também voltando nossas mentes para a violência contra mulheres, refugiados, negros e pobres, enfim, todas as vítimas da voracidade de nosso sistema de acumulação.

O prefeito de Hiroshima, nesse sentido, já encaminhou carta ao Comitê Organizador dos Jogos no Rio de Janeiro. Esperamos que este se sensibilize e promova esse grito silencioso contra as guerras de todo tipo e pela paz entre todos os povos.

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