Corrupção

A corrupção no Brasil: naturalizada e, finalmente, agora desmascarada

Lord Acton diz que ela “reside fundamentalmente no poder


Publicado em 03 de junho de 2016 | 03:00
 
 
 
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É estarrecedora a corrupção que se constatou no Brasil nos últimos tempos, especialmente aquela do petrolão. Os números são sempre pelos milhões de dólares – escandalizam e vão além de qualquer bom senso.

Os organismos norte-americanos de vigilância que espionaram a presidente Dilma Rousseff o fizeram também com a Petrobras, devido ao fato de deter uma das maiores jazidas de gás e petróleo do mundo, o pré-sal.

Encontraram uma teia imensa de corruptores e corruptos que envolvia grandes empreiteiras, altos funcionários da Petrobras, gente do próprio governo, doleiros e não ausentes setores do Judiciário. Beneficiados foram, especialmente, políticos de quase todos os partidos, que financiavam suas custosas campanhas eleitorais com esse dinheiro da corrupção, sob a forma de propinas milionárias.

Desde o início, as investigações que envolveram os principais órgãos da Justiça e da polícia foram viciadas por um componente político. Os vazamentos, problemáticos em termos legais, praticamente se concentraram no PT, relevando e até ocultando o envolvimento de outros partidos, máxime da oposição. A partir daí se criou praticamente uma generalização de que corrupção era coisa do PT. Importa reconhecer que o partido se beneficiou dos esquemas de corrupção e até foi um dos principais articuladores, mas seria injusto considerar que detinha o monopólio da corrupção. Essa é endêmica na vida política e social do país, perpassa partidos e empresas e inclui muitíssimos cidadãos ricos.

Raramente, em nossa história recente, temos assistido a grandes empresários sendo presos, interrogados, condenados e encarcerados. A corrupção, que se havia naturalizado nos mais altos estratos dos negócios e na política, começou a ser desmascarada e posta sob os rigores da lei. Tal fato constitui um dado de altíssima relevância e um avanço no sentido da moralidade pública.

Não se pode ocultar o fato de que o sistema do capital, com sua cultura, é, em sua lógica, também corrupto, embora aceito socialmente. Ele simplesmente impõe a dominação do capital sobre o trabalho, gerando riqueza sob a forma de exploração do trabalhador e devastação dos escassos bens e serviços da natureza. Produz uma dupla injustiça, social e ecológica.

Nossas formas de corrupção têm raízes históricas no colonialismo e no escravagismo. Há também uma base política no arraigado patrimonialismo, que não distingue o público do privado e leva as elites a tratar a coisa pública como se fosse sua e a montar um tipo de Estado que lhes garante privilégios. Tudo isso gerou uma cultura da corrupção, como algo natural e intrínseco à vida social e política. Os corruptos são vistos como espertos, e não como criminosos, o que de fato são.

Filosoficamente pensando, qual é a raiz última da corrupção? Talvez o católico Lord Acton (1843-1902), que era historiador e pensador, nos ajude. Diz ele: “A corrupção reside fundamentalmente no poder. A tradição filosófica e psicanalítica nos tem persuadido de que, em todos os seres humanos, há sede de poder e que o poder não se garante senão buscando ainda mais poder. E o poder se materializa no dinheiro. Para consegui-lo, não vale só o trabalho honesto, mas perversamente todas as formas que permitem multiplicar o dinheiro”.

A história mostra a ilusão dessa pretensão. De repente, pode-se perder tudo e ficar na miséria. Se não tivermos controlado nossa sede de poder e de acumulação, nos sentiremos perdidos. O antídoto a essa sede de poder e de dinheiro é a honestidade, a transparência e a salvaguarda do valor sagrado da autodignidade.

Será que saberemos tirar essas lições da corrupção naturalizada no Brasil, que, finalmente, foi desmascarada?

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