LEONARDO BOFF

A representação na Teologia da Libertação da força dos pequenos

Redação O Tempo


Publicado em 27 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Sempre que se celebra um Fórum Social Mundial, três dias antes, acontece também um Fórum Mundial da Teologia da Libertação. Participam mais de 2.000 pessoas de todos os continentes que praticam em seus trabalhos esse tipo de teologia. Ela implica ter um pé na realidade da pobreza e da miséria e outro na reflexão teológica e pastoral. Sem esse casamento não existe Teologia da Libertação que mereça esse nome.

De tempos em tempos, fazemos nossas avaliações. A pergunta primeira é: como está o Reino de Deus aqui, em nossa realidade contraditória? Onde estão os sinais do Reino em nosso continente, mas também na China, na África, no meio dos pequenos de nossos países? Perguntar pelo Reino não é perguntar como está a Igreja, mas como vai o sonho de Jesus, feito de amor incondicional, solidariedade, compaixão, justiça social, abertura ao sagrado, e que centralidade confere aos oprimidos. Esses e outros valores constituem o conteúdo do Reino de Deus, a mensagem central de Jesus. O nome é religioso, mas seu conteúdo é humanístico e universal. Ele veio nos ensinar a viver esses valores, e não transmitir as doutrinas sobre eles.

Igualmente, quando se pergunta como está a Teologia da Libertação, a resposta está contida nesta pergunta: como estão sendo tratados os pobres e os oprimidos, as mulheres, os desempregados, os povos originários, os afrodescendentes e outros excluídos? Como entram na prática libertadora dos cristãos? Releva enfatizar que o importante não é a Teologia da Libertação, mas o fato da libertação concreta dos oprimidos. Esta é uma presença do Reino, e não a reflexão que se faz.

Entre os dias 12 e 14 de outubro, em Puebla, no México, ocorreu um encontro de teólogos da América Latina. Foi organizado por Ameríndia, que é uma rede de organizações e pessoas comprometidas com a transformação e libertação de nossos povos. A diligência analisa o momento histórico numa perspectiva holística, enfatizando os conteúdos místicos/proféticos e metodológicos da Teologia da Libertação.

Ali estavam alguns dos “pais fundadores” dessa teologia de começos dos anos 70, todos entre 75 e 85 anos, que se encontraram com a nova geração de jovens teólogos (indígenas entre eles) e teólogas (algumas negras e indígenas). Queríamos identificar novas sensibilidades, enfoques e maneiras de processar esse tipo de teologia: que dignidade atribuímos aos que não contam e são feitos invisíveis em nossa sociedade neoliberal e capitalista?

Em vez de palestras, preferiu-se trabalhar em mesas-redondas. Dessa forma, todos podiam participar. Havia os que trabalhavam no meio de indígenas, outros nas periferias das cidades, outros a questão de gênero, outros eram professores e pesquisadores vinculados aos movimentos sociais. Todos vinham de experiências fortes e até perigosas, especialmente na América Central. Pela internet, houve milhares de seguidores em todo o continente.

Ficou claro que há várias formas de entender a realidade (epistemologias). Para todos era evidente que não se pode resolver o problema dos pobres sem a participação dos próprios pobres.

A Teologia da Libertação dos “velhos” e dos novos é como uma semente que representa a “força dos pequenos”. Essa semente continuará viva enquanto houver um único ser humano que grite por libertação.

Recordamos o poema de Pablo Neruda: “Como sabem as raízes que devem subir à luz e saudar o ar com flores e cores?” Com Dostoiévski e com o papa Francisco, também cremos que, no fundo, é a beleza que salvará o mundo.

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