LEONARDO BOFF

De tempos em tempos a plutocracia tenta um golpe

Redação O Tempo


Publicado em 12 de agosto de 2016 | 03:00
 
 
 
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A plutocracia brasileira (os 71.440 miliardários, segundo o Ipea) possui pouca fantasia. Usa os mesmos métodos, a mesma linguagem, o mesmo recurso farisaico do moralismo e do combate à corrupção para ocultar a própria corrupção e dar um golpe na democracia e, assim, salvaguardar seus privilégios.

Sempre que emerge uma democracia com abertura ao social, enchem-se de medo. Organizam um conluio de forças que envolve setores da política, do Judiciário, do MPF, da PF e, principalmente, da imprensa conservadora e até reacionária. Assim fizeram com Vargas, com Jango e, agora, com Lula e Dilma. A sessão de 4.8.2016 no Senado mostrou a farsa montada pela oligarquia, que usou os senadores como os soldados civis previamente bem-instruídos, para aplicar um funesto golpe contra a razão sensata.

Numa entrevista à “Folha de S.Paulo” (24.4.2016) escreveu acertadamente Jessé Souza, autor de um livro que merece ser lido, também com certa crítica, “A Tolice da Inteligência Brasileira”: “Nossa elite do dinheiro nunca sentiu compromisso com os destinos do país. O Brasil é palco de uma disputa entre estes dois projetos: o sonho de um país grande e pujante para a maioria e a realidade de uma elite da rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o bolso de meia dúzia”. A elite do dinheiro manda pelo simples fato de poder “comprar” todas as outras elites.

No atual processo de impeachment de Dilma contam com um aliado poderoso: o complexo jurídico-policial do Estado, que substitui as baionetas. O vice-presidente usurpou o título de presidente e montou um ministério com vários ministros corruptos reduzindo pastas.

Por trás do golpe parlamentar estão as forças citadas por Jessé Souza. Bem disse o papa Francisco a Letícia Sabatella, com quem, junto com uma famosa jurista, teve, há dois meses, um encontro em Roma, relatando a ameaça que corre a democracia brasileira. O papa comentou: “Esse golpe vem dos capitalistas”.

Ninguém sabe para onde estamos indo. Algo parece ficar claro: o design social, montado a partir do colonialismo com as castas de endinheirados que se firmaram no poder, está chegando a seu fim.

Em momentos de obscuridade como os atuais, precisamos de uma grelha teórica mínima que nos traga luz e esperança. Para mim serve como orientação Arnold Toynbee, último historiador inglês a escrever dez volumes sobre a história das civilizações. Para explicar o nascimento, o desenvolvimento, a maturação e a decadência de uma civilização, usa uma chave extremamente simples, mas esclarecedora: “o desafio e a resposta” (“challenge and response”). Diz Toynbee: sempre há crises fundamentais no interior das civilizações. São desafios que exigem resposta. Se o desafio for maior do que a capacidade de resposta, a civilização entra num processo de colapso. Se a resposta é excessiva face ao desafio, surgem a arrogância e o uso abusivo do poder. O ideal é encontrar uma equação de equilíbrio entre o desafio e a resposta de forma que a sociedade mantenha sua coesão, enfrente novos desafios e prospere.

Voltando ao caso do Brasil: os grupos do dinheiro e do poder não conseguem dar uma resposta ao desafio que vem das bases, que cresceram enormemente em consciência e em reclamos de direitos. Por mais que manipulem dados, eles sabem que dificilmente voltarão ao poder pela via da eleição. Daí a razão do golpe. Desmoralizados, não têm nada a oferecer ao novo Brasil.

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