LEONARDO BOFF

Farsa e tragédia de um golpe de classe jurídico-parlamentar

Redação O Tempo


Publicado em 24 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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A euforia dos golpistas terminou em poucas semanas. Agora, que se conhecem as tramoias, nota-se a farsa que se transformou em tragédia nacional. Ocupam a cena um presidente ilegítimo, fraco e parco de luzes, e um grande número de parlamentares denunciados pela Lava Jato que tentam propor, com a maior celeridade, projetos antipovo e antinação. Pretendem levar até o fim seu projeto de adesão irrestrita e envergonhada, agora sob Trump, à lógica do império que busca nos alinhar a seus interesses geopolíticos.

A tragédia de nossa história, que se repete de tempos em tempos, é a negação de direitos ao povo e aos pobres; é a difamação dos movimentos sociais e de seus líderes carismáticos. Sempre irrompem no cenário político as velhas elites, herdeiras da casa-grande, para conspirar contra eles, criminalizar seus movimentos, empurrar os pobres para as periferias de onde nunca deveriam ter saído.

Face a estes, as oligarquias, os conservadores e até reacionários mostram-se perversos, apoiados por uma imprensa sem vínculo com a verdade. A classe dominante se irrita por ter admitido um trabalhador como presidente: Luiz Inácio Lula da Silva é extremamente inteligente, muito mais que a maior parte dela, e tem uma liderança carismática que impressionou o mundo inteiro.

Com ele, o povo ganhou centralidade e o considera o maior presidente que este país já teve. Com frequência, se ouve de suas bocas: “Foi um presidente que sempre pensou em nós, os pobres, e que fez políticas sociais que melhoraram nossas vidas e que nos devolveram a dignidade”.

Nossa desigualdade é uma das maiores do mundo. Jessé Souza, ex-presidente do Ipea, revelou recentemente que o topo da pirâmide social brasileira é composto por cerca de 71 mil biliardários, beneficiados por isenções de impostos, enquanto os trabalhadores são penalizados. É por isso que há crise na Previdência, cuja solução proposta é tão desumana que muitos jamais poderão aposentar-se.

Segundo o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, R$ 500 bilhões foram sonegados em 2016 especialmente pelas grandes empresas. Por que os governantes não correm atrás desse dinheiro para fechar as contas da Previdência? Por que acovardam-se diante da pressão dos poderosos e dos donos da grande mídia, também ela corrompida? Esses endinheirados não negam a democracia, mas querem uma democracia de baixa intensidade, um Brasil para poucos e um Estado não de direito, mas de privilégio.

Ao contrário, há grupos progressistas que ganharam corpo no PT e em seus aliados que, não obstante a contaminação de muitos também pela corrupção, postulam um Brasil para todos, autônomo, com projeto nacional próprio que resgate a multidão de deserdados com políticas sociais consistentes, visando sua completa emancipação.

Todos aqueles que acorreram às ruas contra Dilma Rousseff e bateram panelas andam agora perplexos e envergonhados com a política antipovo e entreguista que está sendo implantada.

Setores da Justiça avalizaram o golpe, fechando os olhos para aqueles que o prepararam e o realizaram. Estes renovaram a tragédia política brasileira, como foi com Vargas e com Jango, culminando com a ditadura militar. Agora, no lugar dos tanques e das baionetas, funcionaram as tramoias parlamentares, e uma jurisprudência capenga, por vezes histérica, afastou a presidente Dilma Rousseff.

Mas não triunfarão. O povo despertou, e mantém viva a esperança que forjará a reconstrução do Brasil.

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