Uma vertente com possibilidades de nos tirar da crise atual

O biorregionalismo como alternativa para o 'bem viver'

Redação O Tempo


Publicado em 18 de dezembro de 2015 | 03:00
 
 
 
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O modelo ainda dominante nas discussões ecológicas privilegia em escala o Estado e o mundo; em economia, a exploração da natureza, o crescimento/desenvolvimento ilimitado em nível mundial e a competição; em política, prevalecem a centralização, a hierarquização, o controle e o governo da maioria; na cultura, o quantitativo sobre o qualitativo, a uniformização dos costumes, o consumismo, o individualismo e o pensamento tecnocrático.

Esse paradigma subjaz, em grande parte, à atual crise da Terra, pois considera esta um todo uniforme sem valorizar a singularidade de seus ecossistemas e a diversidade das culturas. Por isso, gera desequilíbrios no sistema da vida e na dinâmica natural da Terra viva.

Hoje, está se impondo outra vertente mais amiga da natureza e com possibilidades de nos tirar da crise atual: o biorregionalismo. A biorregião se circunscreve numa área, normalmente definida pelos rios e pelo maciço de montanhas. Possui certo tipo de vegetação, geografia do terreno, de fauna e de flora e mostra uma cultura local própria, com seus hábitos, tradições, valores, religião e história feita no local.

Em termos de escala, centra-se na região e na comunidade; em economia, na conservação, na adaptação, na autossuficiência e na cooperação; em política, na descentralização, na subsidiariedade, na participação e na busca do consenso; na cultura favorece a simbiose, a diversidade e o crescimento qualitativo e inclusivo.

Sua tarefa básica é fazer os habitantes entenderem e valorizarem o lugar onde vivem. Faz-se mister inserir as pessoas na cultura local, nas estruturas sociais, urbanas e rurais, no aprendizado das figuras exemplares da história local. Finalmente, sentir-se filho e filha da Terra.

É na biorregião que a sustentabilidade se faz real, e não retórica a serviço do marketing; pode se transformar num processo dinâmico, que se aproveita racionalmente das capacidades oferecidas pelo ecossistema local, criando mais igualdade, diminuindo a pobreza, facilitando a participação das comunidades no estabelecimento dos projetos e das prioridades.

Mesmo sendo a comunidade local a unidade básica, isso não invalida as unidades sistêmicas maiores que afetam a todos (por exemplo, o aquecimento global). A ideia do “glocal”, vale dizer, pensar e agir local e globalmente, nos ajuda a articular as duas dimensões. Sempre é necessário informar-se sobre as experiências de outras regiões e como está o estado geral do planeta Terra.

O biorregionalismo possibilita que as mercadorias circulem no local, evitando as grandes distâncias; favorece o surgimento de cooperativas comunitárias; persiste a economia de mercado, mas composta primariamente, embora não exclusivamente, de empresas familiares, iniciativas cujos proprietários são os próprios trabalhadores, numa cooperação aberta entre bairros e municípios, como ocorre entre várias cidades do vale do rio Itajaí, em Santa Catarina, e em outras regiões.

O biorregionalismo permite deixar para trás o objetivo de “viver melhor” para dar lugar ao “bem viver e conviver” dos andinos, que implica sempre o bem-estar para toda a comunidade, entrando em harmonia com a Mãe Terra, com os solos, as águas e os demais elementos que garantem nossa vida junto com os demais seres vivos do ecossistema.

Esse é um caminho que está sendo trilhado em muitos lugares no mundo. Ele configura uma semente de esperança no meio da falta de alternativas dos dias atuais.

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