LEONARDO BOFF

O impeachment da presidente é uma antirrevolução da direita

Importa assegurar a revolução brasileira pela qual esperamos


Publicado em 06 de maio de 2016 | 03:00
 
 
 
normal

Sou um dos poucos que têm dito e repetido que a ascensão do PT e de seus aliados ao poder central tem significado a verdadeira revolução pacífica brasileira. Florestan Fernandes escreveu que “A Revolução Burguesa no Brasil” (1974) representou a absorção pelo empreendedorismo pós-colonial de um padrão de organização da economia, da sociedade e da cultura, com a universalização do trabalho assalariado, uma ordem social competitiva e uma economia de mercado de bases monetárias e capitalistas.

Se bem repararmos, não ocorreu propriamente uma revolução, mas uma modernização conservadora que alavancou o desenvolvimento brasileiro, mas não promoveu uma mudança do sujeito de poder. Os que sempre estiveram no poder, sob várias formas, continuaram e aprofundaram seu poder. Não houve uma mudança de sujeito do poder como agora.

É isso que, a meu ver, ocorreu com o advento do PT e de aliados com a eleição de Lula presidente. O sujeito não é mais formado pelos detentores tradicionais de poder, mas pelos sem-poder: os vindos da senzala, das periferias e dos fundões de nosso país, do novo sindicalismo, dos intelectuais de esquerda, da Igreja da libertação. Todos esses, num longo e penoso processo de organização e articulação, conseguiram transformar o poder social que haviam acumulado num poder político-partidário. Via PT, operaram analiticamente uma autêntica revolução.

Conferiu-se novo rumo ao país. Lula presidente teve que fazer concessões à macroeconomia neoliberal para assegurar a mudança de rumo, abrindo-se ao mundo dos pobres e marginalizados. Conseguiu montar políticas sociais, algumas inauguradas anteriormente de forma apenas inicial, mas agora oficiais, como políticas de Estado. Elas “atenderam as necessidades mais gerais e profundas que não haviam sido antes devidamente atendidas” (Caio Prado Jr.).

Enumeremos algumas, como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e Luz para Todos, as inúmeras universidades e escolas técnicas, o Fies e os diversos regimes de cotas para acesso à universidade. Ninguém pode negar que a paisagem social do Brasil mudou. Todos, também os banqueiros e os endinheirados, saíram ganhando.

Logicamente, herdeiros que somos de uma tradição perversa de exclusão e desigualdades gritantes, muita coisa resta ainda por fazer, particularmente no campo da saúde e da educação. Mas houve uma revolução social.

Por que nos referimos a todo esse processo? Porque está em curso no Brasil uma antirrevolução. As velhas elites oligárquicas nunca aceitaram um operário como presidente. Relacionada à crise econômico-política (que devasta a ordem capitalista mundial), uma direita conservadora e rancorosa, aliada a bancos e ao sistema financeiro, a investidores nacionais e internacionais, à imprensa empresarial hostil, a partidos conservadores, a setores do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público – sem excluir a influência da política externa norte-americana, que não aceita uma potência no Atlântico Sul ligada aos Brics –, essa direita está promovendo a antirrevolução. O impeachment da presidente Dilma é um capítulo dessa negação. Querem voltar ao estado anterior, à democracia patrimonialista e de costas para o povo, pela qual se enriquecem como no passado.

Além de defender a democracia e desmascarar o impeachment como golpe parlamentar contra a presidente Dilma, importa assegurar a revolução brasileira, pela qual esperamos há séculos. Repito o que escrevi e vi num tuíte: “Se os pobres soubessem o que estão armando contra eles, as ruas do Brasil seriam insuficientes para conter o número de manifestantes”.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!