LOHANNA LIMA

A sede pelo poder acima do bem do clube

Redação O Tempo


Publicado em 01 de fevereiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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O desfecho da turbulenta e vergonhosa eleição no Vasco da Gama traz uma reflexão assustadora – ou, pelo menos, deveria – sobre a perigosa relação de poder excessivo dos dirigentes nos clubes de futebol do Brasil. Vários deles passam anos e anos, de maneira quase intocável, dentro das agremiações, tomando decisões que muitas vezes servem apenas para alimentar seus próprios egos e vaidades e que passam longe de ser a melhor solução para o clube, que é o que realmente importa quando alguém firma o compromisso de comandar uma instituição esportiva, representando milhares de apaixonados torcedores.

A última gestão de Eurico Miranda foi marcada por uma relação de amor e ódio em São Januário e terminou (?) com o agora ex-presidente tentando forjar votos para permanecer a todo custo no poder e desrespeitando o desejo da torcida que, por meio de seus sócios-torcedores, elegeu de forma legal, Júlio Brant à presidência do Vasco, com a maioria dos votos. Fora do comando geral, mas com um novo cargo dentro do clube, Eurico é agora o presidente do Conselho de Beneméritos do Vasco e já provocou o novo mandatário, Alexandre Campello, que para Eurico só chegou à presidência do Vasco porque recebeu seu apoio no apagar das luzes.

Outros clubes também passaram, recentemente, por momentos em que dirigentes meteram os pés pelas mãos, claramente por uma pura questão de ego. É difícil concorrer com Eurico nesse quesito, e um fato é que muitos dirigentes aproveitam-se de conquistas passadas para manter o prestígio e as alianças dentro dos clubes. No Internacional, Vittório Pffero fez parte da gestão campeã da Libertadores em 2006, como vice-presidente de futebol, assumiu a presidência em 2007 e levou o Colorado à conquista do bicampeonato da América em 2010. O dirigente tinha tudo para ser lembrado como um dos homens mais vitoriosos do Internacional, mas seu retorno em 2015 deixou um gosto amargo para a torcida colorada. Com uma série de decisões questionáveis, o clube foi rebaixado à Série B do Brasileiro em 2016 – algo tratado pela imprensa gaúcha como tragédia anunciada.

Mário Celso Petraglia é outro que transita entre o amor e o ódio na torcida do Atlético-PR. São mais de 20 anos dentro do clube e alguns momentos de tensão. Conhecido pelo temperamento difícil e entrevistas fortes, o dirigente também faz a linha autoritária, que lembra um pouco Eurico. Atualmente no conselho deliberativo do Furacão, Petraglia brigou com a principal organizada do clube e proibiu a presença de materiais, instrumentos e faixas na Arena da Baixada. O primeiro desentendimento aconteceu em 2016, depois de um protesto dos integrantes no Aeroporto de Curitiba.

Nem todo dirigente que em algum momento participou de conquistas ou fez um bom trabalho está apto a ser “o homem forte” de um clube eternamente, e isso precisa ser entendido. A experiência ajuda, mas a profissionalização da gestão é algo cada vez mais necessária no país, tendo em vista a situação do futebol brasileiro em geral. As pessoas passam, e o clube fica. Sempre foi assim, sempre será.

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