LOHANNA LIMA

O beneficiado hoje é o prejudicado de amanhã

Falar sobre sensatez nos dias de hoje pode parecer perda de tempo se considerarmos que as pessoas cada vez mais querem defender seus ideais e convicções sem ao menos refletir ou analisar contextos


Publicado em 27 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
normal

Falar sobre sensatez nos dias de hoje pode parecer perda de tempo se considerarmos que as pessoas cada vez mais querem defender seus ideais e convicções sem ao menos refletir ou analisar contextos. No futebol e na política vemos isso de maneira escancarada e, às vezes, é melhor deixar aqueles que gritam, sem sequer tentar escutar as ponderações, falando sozinhos. Porém, não podemos desistir de, pelo menos, tentar trazer um pouco de reflexão às pessoas, independentemente do quão irredutíveis elas estejam sobre qualquer tema.

Falando sobre o futebol, especificamente, o clubismo é algo que sempre me incomodou e que se encaixa perfeitamente nessa lógica de “defender o meu” a qualquer custo. E trago como exemplo na coluna de hoje o recorte do que aconteceu com o zagueiro Dedé, do Cruzeiro, na semana passada, em partida contra o Boca Juniors, pela Libertadores. Na minha opinião, uma expulsão injusta e absurda. Outros jogadores e grandes ex-jogadores saíram em defesa do atleta, assim como a maioria esmagadora da imprensa, outros clubes, o técnico da seleção brasileira, e vários torcedores de outras agremiações. No entanto, há para uma minoria uma certeza de que a expulsão foi correta e indiscutível. Coincidentemente, vem daqueles que se sentiram prejudicados no apito em partidas contra o Cruzeiro na temporada: torcedores de Atlético e Palmeiras.

Fato é que todo clube já saiu prejudicado e beneficiado por lances de arbitragem em algum momento e o que cria esse clima de guerra uns contra os outros, na minha opinião, é o fato de dirigentes, treinadores, jogadores e torcedores reclamarem quando são prejudicados e se omitirem quando são beneficiados.

Em resumo: quando é contra o meu time, o discurso é de revolta. Quando é a favor, a fala mais comum é de que os árbitros são humanos e estão sujeito a erros. E no fim, o que acontece? Entra ano, sai ano e arbitragem segue decidindo o destino dos times, seja por incompetência, inexperiência, falta de critério ou tudo isso ao mesmo tempo.

Nenhum texto meu é escrito para generalizar torcedores ou clubes. No entanto, nesses vários anos trabalhando no meio do futebol, eu já vi muito dirigente se omitir e até mesmo tirar onda quando beneficiado e depois ficar maluco quando sai prejudicado. Falta o mínimo de bom senso e, principalmente, de união entre os clubes e isso passa diretamente para o torcedor na arquibancada. As pessoas acabam vivendo um sentimento de eterna revanche, mas acabam se esquecendo que o beneficiado de hoje é o prejudicado de amanhã.

Eu espero, verdadeiramente, que aqueles que estão ligados ao futebol – treinadores, jogadores, dirigentes e torcedores – deixem de ser omissos em lances que acontecem a favor de seus times para que possam brigar, com todo direito, até o fim, quando se sentirem prejudicados. E não estou falando só de Cruzeiro, Atlético, Palmeiras, São Paulo, Corinthians, mas sim de todos. Enquanto não houver união, os maiores prejudicados serão sempre os clubes. 

*Esta coluna foi escrita antes da partida entre Cruzeiro e Palmeiras, no Mineirão.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!