LOHANNA LIMA

Uma grande bola fora da Conmebol

Redação O Tempo


Publicado em 16 de agosto de 2018 | 00:00
 
 
 
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Poucas coisas são tão mágicas como viver o clima de final de Libertadores. Conquistar a América é a maior obsessão não só do torcedor, mas também de jogadores e de dirigentes do nosso futebol. Tudo é pensado em prol da competição: montagem de elenco, planejamento, e, na hora de priorizar algum campeonato, o torneio continental é sempre o preferido em relação à qualquer outra disputa.
 

Chegar a uma decisão de Libertadores é difícil. Alguns nunca alcançaram esse momento, enquanto outros não vivem essa sensação há muitos anos. Em fevereiro, a Conmebol fez o que, para mim, mata essa coisa tão mágica que é vivenciar uma final de Libertadores: resolveu que a decisão será em jogo único e em campo neutro. Pronto. Estamos copiando a Europa e indo contra nossa cultura.

Nessa semana, a entidade confirmou que Santiago, capital do Chile, vai ser a primeira cidade a receber a final do torneio. O jogo será em um sábado, mais precisamente no dia 23 de novembro do ano que vem, na parte da tarde, assim como acontece na final da Liga dos Campeões da Europa. A Conmebol tenta vender a ideia como uma experiência única e diferenciada para o torcedor, que terá, além de um jogo de futebol outras atrações atreladas à partida, como acontece em outros grandes eventos esportivos pelo mundo. 

O problema é que a Conmebol esquece que a diferença entre a América do Sul e a Europa é gritante, não só de estrutura, como também economicamente e culturalmente.Enquanto na Europa você tem acesso a diversos países de trem, pela América do Sul isso é impossível. Em uma pesquisa rápida de saídas de Belo Horizonte para Santiago com antecedência de aproximadamente um mês – que é quando se conhecem os finalistas – o torcedor mineiro não gastaria menos de R$ 2.000 para chegar à capital chilena em uma sexta à noite, acompanhar a partida no sábado e retornar a BH no domingo – isso sem contar despesas com deslocamento e alimentação pela cidade.

Em um país em que o salário mínimo é R$ 937, fica explícito demais quem serão os torcedores presentes em uma final nesses moldes e o povo é que não vai ser. Quando falamos dessa situação econômica, vale ressaltar também que nossos próprios dirigentes tiram a oportunidade de o torcedor mais simples viver essa experiência ao colocar preços estratosféricos para jogos importantes. Porém, ainda assim, nãoi estamos nem perto de valores como os citados acima, por mais que seja caro frequentar estádios no Brasil também. 

É surreal imaginar seu time chegar a um momento decisivo tão importante e jogar a 3.800 Km, como é a distância de BH até Santiago, por exemplo. Creio que a Conmebol tenha coisas mais importantes a copiar da Europa antes de pensar apenas na grande final, já que muitos times não possuem estádios com qualidade para receber os torcedores visitantes de outros países nem durante a própria fase de classificação. Isso sem contar jogos na altitude, manifestações racistas que não têm punição adequada, entre vários outros fatores que fazem com que Liga dos Campeões e Libertadores sejam duas competições bem diferentes. 

Chegar a uma final de Libertadores não é uma missão fácil, e não poder ver as duas torcidas utilizarem do fator casa vai contra a nossa cultura. Não é porque acontece na Europa que será atrativo aqui. Somos povos de continentes e culturas diferentes, com distâncias e estruturas que também não se equivalem. Tirar a final das nossas casas acaba com a magia do torcedor de vivenciar um momento tão importante. Uma verdadeira bola fora da Conmebol.

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