A Colômbia elegeu o primeiro presidente socialista de sua história. Gustavo Petro ascendeu ao cargo máximo do Executivo em uma votação que registrou o menor número de abstenções dos últimos 24 anos do país. Ao todo, 58,09% da população habilitada, votou. Isso significa que 41,91% dos eleitores se abstiveram - fato bastante curioso e que nos fornece uma importante lição – a lição do que não reproduzir em solo nacional.
No Brasil, o índice de abstenção nas eleições de 2018 foi de 20,3%, maior percentual desde 1998, o que equivale a quase 30 milhões de cidadãos. Isso, sem considerar os 80% dos brasileiros que, no mesmo período, já não se recordavam do voto dado nos anos anteriores. Esse quadro é grave. De um lado, pessoas que se mantiveram inertes e, de outro, cidadãos que muito provavelmente escolheram seus candidatos sem qualquer zelo ou critério principiológico. É o típico voto para “cumprir tabela”.
Comportamentos como esses coloca no Congresso Nacional uma quantidade vergonhosa de parlamentares que não se movem em prol do Brasil, mas são alimentados e motivados diariamente por interesses escusos. Esse é o voto responsável por termos um Parlamento que não representa os anseios da sociedade e, nem possui a confiança daqueles que os colocaram lá.
Uma pesquisa publicada pela Revista Exame apontou que 84% dos brasileiros acreditam que o Congresso Nacional não representa a sociedade brasileira. Um dado que soa demasiadamente irônico. Como o povo, que escolhe seus próprios parlamentares, pode afirmar que estes não o representam? Essa matemática não fecha.
Não obstante a gravidade da abstenção propriamente dita, e das consequências que não se limitam à esfera individual, mas reverberam diretamente nos rumos do país, a abstenção não pode ser interpretada exclusivamente como ausência nas urnas. Essa é forma mais comum e óbvia de continência. A abstenção mais severa não pode ser punida por lei ou forçada pela Constituição. Sua pior faceta é a apatia; é o voto insensato, dado na deselegância e na ignorância completa das consequências de um voto mal dado.
Aqueles que comparecem às urnas por mero dever, sem qualquer conhecimento do histórico e das propostas daquele candidato, equiparam-se àqueles que entregaram aos demais cidadãos o poder de decidir pelo futuro de todos – isso é inadmissível.
Apesar da obrigatoriedade do voto em nosso país, a Carta Magna não é capaz de suavizar os efeitos desse vírus, que já contaminou tanta gente. A solução para essa abstenção bivalente está no compromisso patriótico, o qual todos nós somos responsáveis e devemos estar intrinsecamente vinculados.
A história tão recente do nosso país testifica a força de uma sociedade, de fato, consciente e engajada. Foi por meio da indignação do povo que tivemos uma significativa renovação no parlamento; foi também por meio do protesto que comunicamos às autoridades do país o nosso “basta” à corrupção.
A grande lição de todo esse movimento é que a política é dinâmica e perspicaz, e a sociedade precisa ser sua principal guardiã. A abstenção, seja ela por meio da ausência, seja ela por meio do voto desinteressado, é um dos maiores gestos de irresponsabilidade que qualquer cidadão pode dar. É um aceno claro a desconstrução e a falta de compromisso com o hoje. O seu voto pode elevar ou abater o futuro de seus descendentes. Quem é omisso na urna é também omisso com o Brasil.
Lucas Gonzalez é deputado federal (Novo-MG)