Lucas González

O gabarito da educação

Para que o Brasil deixe a pobreza, precisamos investir no ensino


Publicado em 27 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
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Ninguém em sã consciência desconhece a essencialidade da educação como a coluna dorsal que sustenta as grandes transformações de um país. Em meu último artigo, destaquei que o reparo das desigualdades educacionais e o investimento massivo na geração de emprego são o caminho para apequenar o gigante da pobreza que assombra o Brasil.

Nos últimos dias, todos voltamos nosso olhar para a educação brasileira. A posse do novo Ministro e a votação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) ganhou as manchetes. São pautas importantes e que trazem à tona o protagonismo que a educação deve ter em qualquer país que mire o crescimento.

Apesar do consenso de que a educação pulsa o progresso sadio e de longo prazo, o Brasil ganhou falta nas aulas práticas. Atualmente, amargamos uma posição vergonhosa no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

São mais de 40% das crianças e dos adolescentes do Brasil, em fase de aprendizagem, que vivem em situação de pobreza; quase 50% dos jovens nem sequer terminam o ensino médio. Os números não são nada animadores e, indubitavelmente, revelam que não estamos no rumo certo.

A cada jovem fora da escola, o Brasil perde R$ 372 mil por ano, de acordo com a pesquisa coordenada pelo idealizador do Bolsa Família, Ricardo Paes de Barros. São jovens que entrarão no mercado de trabalho sem qualquer qualificação. A consequência disso todos já sabemos: baixos salários, informalidade e pobreza. Esse mesmo levantamento estima que, se a evasão escolar seguir no ritmo atual, a perda corresponderá a 3% do Produto Interno Bruto (PIB), o que significa um prejuízo de R$ 214 bilhões por ano.

Temos sede de mudança, e não há tempo para demagogias. Isso não mudará a vida dos nossos jovens. Pelo contrário, acirrará uma polarização ilógica e que só nos fará descer a ladeira. O país precisa ser aprovado no exame do desenvolvimento econômico e social, e o gabarito dessa prova é bem simples: educação – esta é ponte que conecta miséria ao desenvolvimento sustentável. Ela é longa e para atravessá-la é preciso substituir os discursos falaciosos pelo patriotismo.

A qualidade da educação é que vai medir a robustez dessa ponte. Distribuir renda aos mais pobres e esquecer-se de investir no ensino de qualidade é construir uma ponte que rapidamente será interditada. Para que o Brasil deixe a pobreza, precisamos investir no ensino das nossas crianças.

Se existe consenso de que o grande gargalo educacional está no ensino básico, insistir em velhas práticas não me parece razoável. Nações que investiram nas crianças e nos jovens saltaram porque entenderam essa verdade.

É preciso modernizar e buscar soluções fora da caixa. O Projeto de Lei 2.570/2019, de minha autoria, vincula as economias dos gabinetes parlamentares ao Fundeb. A meu ver, essa é uma excelente alternativa para ampliar os recursos da educação, sem exigir mais do pagador de impostos. Se a iniciativa fosse lei, apenas o meu gabinete teria destinado R$ 2,04 milhões para educação básica. Pense nesse valor multiplicado por 594 (deputados federais e senadores). Infelizmente, o projeto teve a sua tramitação interrompida e, há mais de um ano, aguarda recurso.

O combate à miséria passa necessariamente pelo aperfeiçoamento da educação. Enquanto estiverem desvinculadas, continuaremos a ser um Brasil majoritariamente pobre e com um pífio desempenho escolar. É hora de cruzarmos ponte da educação.

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