O porteiro passa a madrugada com o bastão de ferro na mão olhando pessoas famintas esticar seus corpos na calçada do outro lado do vidro.
O cara da loja de R$ 1,99 engasga no microfone, confunde os preços dos badulaques com o mesmo constrangimento de árvores aprisionadas ao cimento.
Olha lá, raízes ondulam o asfalto, racham o concreto, balançam pesadíssimas euforias para dizer que você não pertence a este lugar. Nunca pertenceu.
Do avesso. Ratos tragam cigarros, bêbados lambem bueiros, pombos flertam nas mesas do bar.
Homens alimentam os próprios egos grunhindo em estágio febril. O cara descabelado na esquina pede piedosamente R$ 100 para fugir do Brasil.
Todo dia.
Sirenes berram fundo pela noite cansada. No alto de prédios impossíveis: pixações entortam sentidos para contar sobre vidas inteiras negadas.
Os moleque, ham, madrugada adentro ouvindo Racionais: “periferias, vielas e cortiços: você deve tá pensando o que você tem a ver com isso”. Não queremos ser a erva daninha que cresce na beira do asfalto. Assinado, não seremos.
Rio de Janeiro é ilusão de Carnaval o ano inteiro. O Brasil é sertão. Minha avenida é chão rachado sem purpurina e sorriso margarina. Toda manhã o sol espanca a mesma face para lembrar que confete é passageiro no ar. O dia a dia é um palhaço que chora de verdade sobre a maquiagem manchada da folia.
Todo dia.
A bateria da polícia ensaia no gramado do batalhão. O sino da igreja bate às seis. Os ônibus vão e vêm lotados. A TV fica ligada até terminar a novela. Quem falou que os personagem da minha vida desfilam nessas passarelas?Todo dia.
A real é almoço na lata. É o grito de “ó o gás” samplelado em funk balada. Sabe nada, lá vem o gari, na ponta da língua carrega o “fé em Deus” do Menor do Chapa.
As freirinhas ascendem cigarros depois do almoço, cachorros correm ruas feito loucos. O mundo não parece mais só um grande bordão. Chama ele, o Itamar Assumpção, pede uma canja de dose sincera para a desilusão: “aprendi que a desavença é por que sempre alguém pensa que ninguém tem mais razão. Aprendi que tudo passa, tomando chá ou cachaça”. Não importa o que se faça.
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