Alguém já disse que ser mãe é ter um mini-infarto todos os dias. A hipérbole bem-humorada traduz um dos aspectos do cotidiano de quem tem sob seus cuidados filhos pequenos. É cada susto que a gente passa... É preciso ter um coração forte para aguentar esses trancos. Senão, uma hora é perigoso mesmo sofrer um ataque cardíaco.

Outro dia, enquanto eu cuidava da lida doméstica, Miguel e Rafinha desceram para brincar (importante explicar a estrutura da nossa casa, para melhor entendimento do que aconteceu: há dois pavimentos abaixo da residência propriamente dita, que compreendem, respectivamente, a garagem e o quintal). De repente, escutei um berro do mais velho, que não consegui distinguir, e logo em seguida o caçula, também aos gritos:

– Mãe, o Miguel machucou, o Miguel machucou!

Larguei tudo e saí desembestada para acudir o menino. Desci as escadas igual a uma louca e encontrei o Rafinha na garagem, com cara de aflito. Na mesma hora, Miguel chegava ao local, depois de subir do quintal, com a mão no peito, revelando o motivo da gritaria:

– Aaaaaah, não acredito, o Bidu conseguiu pular o portão!

Quem quase não acreditou fui eu.

Tive que me refazer do sobressalto e só então percebi que o indicador da minha mão direita estava sangrando. Na correria, não me pergunte como, machuquei o dedo em algum lugar, e não foi só um arranhãozinho, foi um corte não muito superficial e um tanto dolorido. Mas isso logo passou e naquela hora não tive muito ânimo de chamar a atenção do Miguel, porque saber que estava tudo bem acabou suplantando qualquer resquício de aborrecimento.

E no último sábado outro susto, mas não por peraltice das crianças. Eu estava no quarto quando ouvi um barulho, vindo da cozinha, de coisas caindo e se quebrando. Novamente correria, e a cena era realmente impactante: um dos armários da cozinha, tipo balcão, tinha tombado para a frente, por ter tido dois pés quebrados, e havia cacos de vidro e de cerâmica, milho de pipoca e farinha esparramados pelo chão. Miguel estava de pé, ao lado do móvel, com expressão de espanto, mas bem. Minha preocupação, então, se voltou para o outro filho:

– Cadê o Rafinha?

– Tá no banheiro.

Entre atordoada e aliviada, perguntei ao Miguel o que havia acontecido, e ele disse que, ao abrir a porta do armário, este acabou virando e deixando cair no chão quase tudo que havia dentro. Ele e eu começamos a chorar, trêmulos. Fernando foi lá e o retirou do meio daquela confusão.

Após o baque, passamos a analisar o quadro para tentar entender o que poderia ter levado àquele incidente. O desgaste dos pés do armário ao longo do tempo pode ter sido acelerado pela mudança do móvel de um lugar para o outro nas últimas semanas. Diante disso, a gente fica com um misto de sentimentos, como alívio, culpa e indignação, mas, ao mesmo tempo, com uma gratidão imensa, por não ter acontecido algo grave.

Por fim, um caso mais leve e bem divertido.

Há alguns meses, estava tomando banho quando ouvi o Rafinha chamar:

– Bidu, Bidu, vem cá, Bidu!

Pronto, o menino tinha deixado o cachorro, criado no quintal, subir para a casa, pensei. Terminei o banho rapidamente e, ao abrir a porta, uma surpresa: Rafinha estava não com o Bidu, e sim com uma folha de papel onde havia um cãozinho desenhado. Como sabia que não estava sendo visto, apenas ouvido, ele fez isso para pregar uma peça nos pais e no irmão. Eu, claro, ri demais e achei genial a ideia dele.

Criatividade e imaginação as crianças costumam ter de sobra. Justamente por isso, por esse desejo de conhecer o que há no mundo, dando vazão a uma inventividade de certa forma natural, é que elas saem para explorar o que está ao redor e podem acabar vendo-se em situações inusitadas e até perigosas. Percebo que, como mães, pais e outros cuidadores, temos o dever de propiciar um ambiente seguro, dentro ou fora de casa, que permita aos pequenos desenvolver essa inclinação ao novo sem que isso os coloque em risco. O que não significa que não vamos ter uns sustos de vez em quando.

Autor

Luciara Oliveira

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