Notícia veiculada pelos jornais O TEMPO e Super Notícia nesse último fim de semana colocou em destaque o drama vivenciado pelos moradores de rua abrigados debaixo dos viadutos da área central da capital. Em um caso em especial, a repórter Letícia Fontes ouviu uma senhora de 76 anos, de Santa Luzia, que naquele mesmo momento fazia, como sempre faz, a visita semanal ao seu filho, Dirceu, de 48 anos, morador do local há quase oito anos. Sem água, sem local para viver com o mínimo de higiene, essa população vem ganhando volume especialmente no centro, fazendo aumentar os índices de doenças, de fome, de uso de drogas, o que também são formas de violência.

Configuram um amplo quadro de misérias, sem volta e de ameaça contra a dignidade do ser humano. Sobrevivem com suas pequenas demandas, que atendem com doações de entidades filantrópicas, restos de comida e alguns recursos advindos do comércio de papel, vidro e metais recicláveis. A essa prática está associado, muitas vezes, o furto de cabos e fios de eletricidade e de comunicação, que incineram sem qualquer constrangimento para depois vendê-los aos seus receptadores, um comércio muitas vezes criminoso e igualmente imundo, que atua nas vizinhanças da nossa rodoviária. Esses estabelecimentos que compram cabos de cobre e alumínio sabem, porque é obvio, que são produtos furtados, retirados das redes públicas, causando enormes prejuízos à sociedade, pela interrupção de tais serviços. Se as autoridades querem fazer alguma coisa para limitar tais práticas, o melhor caminho é começar pela fiscalização desses citados comércios.

Além da sujeira, do aspecto horrível e degradante das nossas ruas, andar por elas, há muito, representa um risco. Colocar pedras sob os viadutos para impedir que tais locais sejam ocupados pelos moradores de rua é solução de nada; só evita que lá se instalem tais miseráveis. Ao Estado cabe conceber e praticar políticas de assistência social, cadastrando, acolhendo e tratando essa população carente, que o poder público parece desconhecer como um problema social que, se não pode ser erradicado, pode ser amenizado com ações concretas de proteção. Não é fácil, mas é para isso que existem o Estado, seus técnicos e os recursos do Orçamento que manipulam. É obrigação. Não é favor.

Se não for colocado em ação um programa efetivo para se encarar essa questão, se continuarmos tratando tais problemas com paliativos, Belo Horizonte vai se tornar uma cidade a cada dia mais insuportável para se viver. Se não enfrentarmos tais demandas agora, com soluções inteligentes e definitivas, certamente vamos agravar um quadro que a todos afeta.

Não podemos somente assistir inertes a esse desleixo.