Desde que iniciou o governo, o presidente Jair Bolsonaro vem fazendo do seu estilo tosco e grosseiro – direto, para muitos – um caminho para colocar na roda temas que pouco ou nada modificam os problemas que a nação vive e deles não consegue se livrar. Tal conduta, entendida como diversionismo, é o estratagema usado para desviar a atenção da sociedade, como no momento atual, de problemas de maior importância política, econômica e social. Foram dezenas de buchas, desde a valorização de falas menores, como “menino veste azul, e menina veste rosa”, as discussões sobre como se comportam, ou vestem, ou fazem sexo os estudantes das universidades federais, até os debates mais recentes, como as circunstâncias da morte do pai do presidente nacional da OAB, quando militante da esquerda armada. Com o mesmo grau de equivocada prioridade, assistimos há mais de mês à polêmica indicação de um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, como provável futuro embaixador do Brasil nos EUA.

O presidente é reconhecidamente um homem de briga de rua, “de dar porrada se for necessário” – ele mesmo diz assim –, o que o tem motivado a bater boca especialmente com a imprensa, que profissionalmente o interpela de seus atos, nas suas aparições. Mais recentemente, Bolsonaro assumiu o hábito de parar e descer do carro geralmente nas manhãs para uma fala coloquial com turistas que ficam à sua espera na oportunidade de um selfie ou um aperto de mão na porta do Palácio da Alvorada. Postados no mesmo espaço, à procura de um furo, há sempre jornalistas que cobrem esses momentos, que invariavelmente geram pautas e risos para as horas seguintes.

Nos últimos dias, num desses encontros, Bolsonaro pai, respondendo à pergunta que lhe foi feita por uma jornalista sobre o que muitos reputam como imoral, a esperada indicação de seu filho Eduardo para chefiar a embaixada brasileira em Washington, reconheceu que o Senado poderia reprovar em sabatina o nome apresentado. Em seguida, e com ironia, disse que, se fosse vedado o seu pleito, Eduardo poderia ser o nome com quem ele substituiria o atual ministro das Relações Exteriores, chanceler Ernesto Araújo, circunstância que o colocaria, nessa eventualidade, como superior a todos os diplomatas brasileiros. Esqueceu-se o presidente de que, também para ser chanceler, tal indicado deverá obrigatoriamente passar pelo crivo do mesmo Senado, aquele que na mesma hipótese teria rechaçado o nome do seu menino para ser embaixador. Se 03 não serviu para o menos, não poderia, obviamente, ser o mais. Mera hipótese, claro.

Enquanto nos enrolamos em tais temas, aos oito meses de governo, pouco ou nada de importante temos para comemorar e que nos faça amenizar o sofrimento de seguir vendo um país cuja economia não cresce, que tem 13 milhões de trabalhadores desempregados e 5 milhões de outros que já não têm sequer motivação para procurar uma colocação. Essa miséria que cresce é o nosso maior problema. Não podemos nos conformar com ela.

PS. Para que não me chamem de “esquerdopata”, como está na moda, declaro que votei em Bolsonaro no segundo turno. Por absoluta falta de opção.