O presidente Jair Bolsonaro está manipulando, com sucesso, parcela considerável da opinião pública em favor de seu projeto político. Vendeu-se durante sua campanha à Presidência como uma promessa de recuperação moral e econômica do país e vem, dia após dia, desfocando a sociedade desse compromisso.
Na economia, seu governo não moveu os números para lugar nenhum, porque é falácia a história de que estávamos crescendo. O agronegócio cresceu mais por talento e trabalho próprios. Prova de que não nos movemos é o desemprego, que até fevereiro havia ficado no mesmo lugar.
Sempre que colocado nas cordas, o presidente e seu ministro da Fazenda devolvem como resposta “ser impossível resolver em poucos meses o que seus antecessores gastaram 20 anos para esculhambar”. Não é bem assim se, falando dos números da economia, levarmos em consideração os índices dos governos FHC e Lula. Dilma, sim, pela sua incapacidade “marmórea” à frente de um governo no mínimo desastroso, projetou o Brasil num abismo, por cujas consequências ainda pagaremos muito, sem falarmos no avanço da corrupção, em níveis nunca vistos em grande parte do mundo.
Bolsonaro sabia e continua sabendo o que herdara; se pouco ou nada fez em 17 meses de seu governo – excluídos os estragos que, sabemos, se darão em razão do impiedoso coronavírus – foi porque não tinha consistência do que prometera sanear.
Mas o que neste momento preocupa – e não são boas as previsões – é a irresponsabilidade como age o presidente gerando factoides, mentindo, paralisando (ou não agindo) ou dando as costas a uma realidade que começa a se mostrar apavorante, espalhando angústias, como é o seu horroroso feitio.
Onde estão os projetos de mudança, tão prometidos? Onde estão as reformas que seriam as bases técnicas e legais do processo de transformação política, econômica e social do Brasil? Como atribuir ao Congresso – onde, claro, independentemente de partidos, estão larápios, corruptos, vagabundos, espertalhões, analfabetos funcionais e analfabetos políticos, mas também estão dezenas de senadores e deputados de boa formação ética e moral, com experiência e vivência adquiridas como empresários, ex-governadores, ex-ministros, todos eleitos pela preferência e pelo voto popular – a responsabilidade da inércia desse governo, que passa meses semeando provocações e embriagando parcelas significativas da sociedade com futricas e ameaças de fechamento dos demais Poderes da República, como se faz nas ditaduras?
Será solução para o Brasil entregar nas mãos de um despreparado a condução absolutista do país? Há quase um mês que nada mais se faz a não ser movimentar a usina de destruição e desqualificação moral dos que são contrários aos seus planos, que de republicanos pouco ou nada têm. Para quem tem como vice um general observador e com prestígio nas Forças Armadas, essa ousadia barata pode ser um tiro que sairá pela culatra.