MARCELO SZUSTER

A necessidade de ser ágil

Fazer a transformação digital – e investir ainda mais no digital – portanto, significa, na prática, se tornar ágil


Publicado em 09 de maio de 2020 | 03:00
 
 
 
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Em meio à enorme incerteza causada pela Pandemia do Covid-19, ouvimos um tema recorrente sobre como as empresas se adaptarão ao "novo normal": certamente deverão investir muito no "digital", intensificando ainda mais um movimento que foi iniciado pela chamada "Transformação Digital". Mas o que é exatamente essa transformação? E o que significa, concretamente, investir ainda mais no "digital"?

Dito de forma simples, a transformação digital é simplesmente a constatação de que nenhum negócio, em nenhum segmento, escapa de utilizar as tecnologias digitais como parte de seus principais ativos para geração de valor.  

Como veremos hoje e ao longo das próximas colunas, as implicações disso são muito mais amplas do que se pode avaliar à primeira vista, pois requerem profundas mudanças nas organizações.

Mas por quê? Ficar digital não é uma simples questão de comprar e usar as tecnologias digitais? Não é simplesmente comprar novos softwares, apps, computadores e pronto, uma empresa terá se tornado digital?

Para entender porque isso não é verdade, precisamos entender o novo contexto de negócios definido pela transformação digital.

Esse contexto é, em grande parte, resultado da famosa “Lei de Moore”, uma previsão realizada na década de 60, por Gordon Moore, co-fundador da Intel, de que a capacidade de processamento de circuitos integrados dobraria a cada dois anos.

Essa lei vem se mostrando verdadeira em diversos aspectos da tecnologia digital, e a forma mais fácil de entendê-la é simplesmente olhar para nosso dia a dia: usamos celulares mais poderosos que supercomputadores de antigamente, estamos continuamente conectados à internet e assistimos filmes em alta resolução como se isso fosse algo totalmente trivial!

Estamos, portanto, em um ambiente em que a tecnologia digital fica cada vez mais acessível e mais barata – o que tende a acelerar.  E isso causa efeitos dramáticos, tanto do lado das empresas, quanto dos consumidores.

Do lado das empresas, não é mais possível ter o conforto de se ter acesso a uma determinada tecnologia simplesmente por se ter mais dinheiro.

Peguemos um exemplo simples: o processamento de imagens. Hoje, qualquer celular novo já vem com funcionalidades que permitem tirar uma fotografia de um produto, reconhece-lo e já procurá-lo em algum site da internet.

Há alguns poucos anos atrás, uma ideia dessas, para ser levada à frente, demandaria um enorme investimento e possivelmente um projeto de pesquisa com alguma universidade. Hoje, essa capacidade de reconhecimento de imagem pode ser consumida, por centavos, como algum serviço disponibilizado na nuvem.

Isso significa que essa incrível capacidade de reconhecimento de produtos está virtualmente disponível para todo tipo de empresa, independente de tamanho e localidade, não havendo nenhuma possibilidade de que qualquer empresa possa considerar que esse será um diferencial somente dela e de longo prazo. 

Qualquer vantagem que seja somente dessa natureza vai se esvair rapidamente, pois o ambiente agora é de hiper-competitividade: as fronteiras entre os negócios borram, há competidores inesperados e é virtualmente impossível ter sossego.

Do lado dos consumidores, podemos dizer que qualquer consumidor, nessa era digital, está, de fato, muito mais empoderado, pois ele tem acesso instantâneo a muito mais informação e nunca está sozinho!

Fica, portanto, cada vez mais difícil para as empresas simplesmente “empurrarem” seus produtos para seus clientes finais, uma vez que agora eles tem uma enorme capacidade de fazer comparações, saber o que é real e, ainda, impactar diretamente as marcas com avaliações e comentários em redes sociais.

A empresa olha menos para o próprio umbigo, sendo obrigada a colocar o cliente verdadeiramente no centro de suas atenções e de sua estrutura.

Fica claro que prosperar nesse ambiente significa muito mais do que simplesmente comprar tecnologia digital. Significa entender que a hiper-competitividade e centricidade no cliente criam um ambiente muito mais  volátil, instável ambíguo e complexo – o famoso ambiente Vuca. E que para prosperar nesse ambiente, cada empresa deve virar um tipo de animal diferente.

Um animal que sim, compreenda e saiba muito bem usar as ferramentas digitais, mas, mais do que isso, um animal adaptável, capaz de sentir e responder rapidamente às mudanças que irá encarar continuamente - acima de tudo, ágil. Fazer a transformação digital – e investir ainda mais no digital – portanto, significa, na prática, se tornar ágil.

É sobre isso que falaremos nessa coluna: sobre agilidade, nos negócios.

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