MÁRCIO COIMBRA

Açougueiros de Formosa

Redação O Tempo


Publicado em 11 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Rodrigo Janot chega ao fim de seu período frente ao Ministério Público Federal de forma melancólica. Tentou, de todas as formas, derrubar o governo com sua bala de prata, a delação dos irmãos Batista e do executivo Ricardo Saud. O tiro, entretanto, saiu pela culatra. Os delatores que gravaram uma conversa com o presidente acabaram por gravar a si mesmos, deixando evidente parte da trama que se escondia por trás da colaboração com o procurador geral da República. A JBS é resultado direto da estratégia dos governos petistas de criar um capitalismo de Estado no Brasil. A ideia de criar “campeões nacionais” impulsionados por dinheiro público, especialmente vindo do BNDES. Outros exemplos emblemáticos foram a Odebrecht, Kroton e a EBX, holding de Eike Batista, que recebeu, por meio de suas subsidiárias, enormes quantias de dinheiro do governo.

O faturamento do grupo, fundado por Zé Mineiro, em Goiás, no ano de 1953, mudou de patamar desde que resolveu se associar aos governos petistas. Em 2006, possuía um faturamento de R$ 4 bilhões. Depois das injeções de dinheiro do BNDES, chegou a R$ 170 bilhões em 2016, um acréscimo de mais de 4.000%. Hoje, o frigorífico goiano tem atuação em mais de 150 países, com 340 unidades industriais e mais de 200 mil empregados. Entre 2006 e 2013, recebeu mais de R$ 12,8 bilhões do BNDES. Os irmãos Batista, Joesley e Wesley, de apenas 44 anos, filhos de Zé Mineiro, nascidos na cidade de Formosa, Goiás, catapultaram os negócios de seu frigorífico.

O crescimento empresarial, entretanto, estava ligado diretamente ao custo político da operação. As doações para campanhas políticas acompanhavam o vetor de crescimento do dinheiro público nos negócios. Se em 2002 a JBS doou R$ 200 mil no processo eleitoral, este volume cresceu em 2006, ano em começaram os empréstimos do BNDES, chegando a R$ 19,7 milhões. Em 2010, subiu para R$ 83 milhões, alcançando a incrível marca de R$ 391,8 milhões, em 2014, em doações oficiais.

Na delação, Joesley afirmou ter pago 18,5% dos empréstimos recebidos do BNDES em propina para políticos e partidos, o que, de 2007 a 2010, representa R$ 1,4 bilhão. A conta, como vemos, fica sempre maior, assim como as suspeitas de desvios, pois fica evidente que os Batista repassavam dinheiro recebido do BNDES diretamente para políticos que autorizavam tais empréstimos, um caso clássico de corrupção. Flagrados em autogrampo, Joesley Batista e Ricardo Saud deixam claro que buscavam armar uma arapuca contra os inimigos de Janot para adoçar os lábios do procurador, alcançando, assim, um acordo que fornecesse imunidade completa.

A história da JBS mostra a cara de um Brasil corrompido, anabolizado pelo Estado, internacionalizado pelo governo. Longe de ser um campeão nacional pelos próprios méritos, em números, pode até ser a maior processadora de carne bovina mundial, mas, na prática, nunca deixou de ser apenas mais um açougue de esquina gerenciado por malandros.

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