MÁRCIO COIMBRA

Aliança por Bolsonaro

Em termos políticos, Bolsonaro se coloca diante de um grande desafio, pois faz uma aposta arriscada ao mexer na composição política de forças do país e do Parlamento


Publicado em 25 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Os movimentos de Bolsonaro em direção a um novo partido tomaram forma concreta nos últimos dias. O Aliança pelo Brasil será o nono partido do presidente, que já passou por diversas agremiações políticas. Este, no entanto, guarda uma singularidade em relação aos partidos do passado. Neste novo grupo, a liderança será exercida diretamente por Bolsonaro, que terá total controle, moldando suas diretrizes diretamente a sua imagem e semelhança. 

Em termos políticos, Bolsonaro se coloca diante de um grande desafio, pois faz uma aposta arriscada ao mexer na composição política de forças do país e do Parlamento. As dificuldades do novo partido são imediatas, uma vez que precisa consolidar sua existência até meados de março do próximo ano para poder concorrer nas eleições municipais.

Outro desafio se impõe, na medida que, viabilizado, o partido não contará com o fundo eleitoral e partidário conquistado nas eleições proporcionais pelo PSL. Nascerá com a mensagem e o impulsionamento de Bolsonaro, porém sem recursos para bancar sua entrada no mundo eleitoral.

Da mesma forma, existe um dilema a ser solucionado no Parlamento, uma vez que cerca de metade da bancada do PSL, que deve se transferir ao Aliança pelo Brasil, ainda permanece filiada ao antigo partido. Ao mesmo tempo que não podem se desfiliar por risco de perder o mandato, podem ser expulsos por trabalharem na articulação de um novo partido usando os mandatos conquistados pelo PSL.

Considerando que o Aliança pelo Brasil consiga uma bancada de 25 parlamentes fiéis a Bolsonaro saídos do PSL e mais algumas adesões, o partido ainda estará longe de ser uma força articulada, presente nas comissões e com peso na estrutura da Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Isto pode gerar ainda mais desgaste para o governo no Congresso Nacional. Em 2019, Bolsonaro aprovou na íntegra apenas duas Medidas Provisórias. Nove delas foram rejeitadas pelo Parlamento. Todas as outras, no bojo das 37 que foram enviadas pelo Planalto, passaram por modificações e adaptações dos deputados e senadores. A maior vitória do governo no Parlamento, a Reforma da Previdência, foi mais uma conquista de união nacional do que articulação política palaciana. As novas reformas econômicas precisam deste mesmo impulso, caso contrário, podem ficar pelo caminho.

Bolsonaro decidiu dar um salto no escuro, um movimento que sempre acontece com governantes que chegam ao poder impulsionados por uma onda. Assim foi com Jânio Quadros e também com Fernando Collor. Ao tentar inverter a lógica da política, estes líderes, que chegaram consagrados pelas urnas, tiveram finais pouco auspiciosos. As urnas não legitimam o governo a subverter a ordem política. O grande erro destes eleitos foi acreditar que é possível governar como candidatos, um equívoco muito comum que acomete aqueles que chegam ao poder sem grandes alianças, impulsionados por um momento de renovação cíclico. Sem tradição e experiência na política real, ao criar o Aliança pelo Brasil, Bolsonaro aposta alto na certeza que sua eleição o credencia para reorganizar as estruturas de poder do país. Um movimento audacioso e arriscado. 

 

 

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