O governo Bolsonaro precisa encontrar um ponto de equilíbrio longe das crises que se tornaram rotina nos últimos tempos. Uma forma seria internalizar valores conservadores reais em sua postura presidencial, aqueles que enxergam as mudanças e o progresso necessários para manter uma sociedade saudável de forma cautelosa e gradual.
Entretanto, o temperamento mercurial do capitão não ajuda nesta dinâmica, muitas vezes injetando combustível na adversidade. Ao cultivar inimigos e desafetos por meio de delírios, desconfianças e obsessões, amplia o leque de adversários no plano político, o que pode vir a causar danos irreparáveis para sua presidência.
A vítima mais recente foi a Casa Civil de Onyx Lorenzoni, mas o leque é enorme, passando por parlamentares, militares e executivos. O aliado viu sua pasta ser esvaziada aos poucos até encontrar o caminho da fritura política. Suas atribuições foram distribuídas para a Secretaria de Governo, Ministério da Economia e Secretaria Geral, que já funciona informalmente como a Casa Civil de fato.
Alvo também da ira presidencial, Sergio Moro viu sua cabeça aproximar-se da degola mais uma vez. Entretanto, ao contrário de inúmeros outros nomes que compõem o ministério, possui enorme popularidade entre os brasileiros, o que gera maior dificuldade para Bolsonaro rifá-lo da equipe. O presidente sabe que ao demitir Moro, cria seu principal adversário na corrida eleitoral.
Roberto Alvim foi outro caso que se esforçou para encontrar a degola. Titular da pasta da Cultura, produziu um vídeo bizarro com frases de teor fascista que remetem ao chefe da propaganda nazista de Hitler. Diante da pressão de chefes dos outros poderes e das redes sociais, Bolsonaro foi obrigado a demitir o secretário, mesmo contra sua vontade. Encontrou em Regina Duarte uma substituta, que ao possuir independência e opinião, em pouco tempo pode colocar-se na linha de tiro do chefe.
Outro que segue na mira das autoridades é Fabio Wajngarten. Titular da Secretaria de Comunicação, ele é sócio de empresa que presta serviços a tevês e agências, mas no governo também assina contratos que favorecem sua clientela. Sobre Wajngarten já se debruçam o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público, a Comissão de Ética da Presidência e tudo indica que em breve deve ir ao Congresso Nacional apresentar explicações. Diante da ausência de degola presidencial, é provável que a Justiça em breve faça este trabalho por Bolsonaro.
O capitão precisa encontrar equilíbrio na gestão presidencial, evitando a estratégia do confronto pelo bem do país. O governo precisa de estabilidade para resgatar a credibilidade do Brasil. Uma injeção de conservadorismo real faria muito bem neste momento. Um conservador procura preservar as instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do tempo e são fruto dos usos, costumes e tradições. Uma receita infalível para evitar crises em série e fazer o governo encontrar seu prumo.