Estratégia presidencial

As declarações do presidente da República na última semana levantaram uma dúvida no mundo político. Não está muito claro se Jair Bolsonaro está agindo dentro de uma estratégia definida ou se atua livremente de maneira natural. Talvez não seja tanto uma coisa ou outra. Tudo indica que estamos diante de um presidente que usa suas características naturais de forma perspicaz como forma de conversar com seu eleitorado.

De certa forma, Bolsonaro ainda não abandonou os traços de parlamentar. Enquanto deputado, guardava esta característica, que acabou catapultando seu nome especialmente nas redes sociais. Muitos acreditavam que a narrativa que adotou quando parlamentar não funcionaria no Palácio Planalto. Entretanto, esta forma disruptiva e polêmica de comunicação acaba por gerar resultados também na Presidência da República.

A polêmica funciona bem nas redes sociais, uma vez que produzem um número maior de interações, sejam positivas ou negativas. Os algoritmos, neste caso, privilegiam temas controversos. Quanto maior o número de interações, maior o alcance das postagens, retroalimentando o sistema que torna Bolsonaro sempre um dos temas mais comentados no mundo virtual.

Da mesma forma, Bolsonaro sempre foi um político altamente intuitivo, e erram aqueles que acham que estão diante de um militar no comando do Planalto. Sua vida política ultrapassa com folga o período como militar. Foram quase três décadas no Parlamento e a metade disso na caserna. Mesmo militar, Bolsonaro sempre possuiu um forte corte político, afinal não foi por outro motivo que conseguiu ler de maneira eficaz o cenário eleitoral, elegendo-se deputado, usando como base as famílias militares, por sete mandatos consecutivos, passando por nove partidos.

Soma-se a isso também o movimento pendular da política, que neste momento move-se para a direita, tanto na esfera internacional, quanto no Brasil, como vimos nas últimas eleições. Na medida que este ainda é um processo em curso, as estratégias que levaram esta safra de políticos ao poder segue em movimento, agora dando forma e narrativa eficazes aos governos que foram eleitos.

Fica claro, portanto, que estamos diante de uma estratégia clara que dialoga com os grupos congêneres ao redor do mundo e que sabe fazer uso do modelo de funcionamento das redes sociais e das narrativas das diferentes plataformas como forma de criar uma conexão efetiva com o eleitorado. As polêmicas criadas pelas declarações do presidente ofuscam as conquistas do governo, mas também funcionam como um eficaz instrumento de comunicação com a sua base, causando maior exposição. Considerando que vivemos em um momento polarizado, a estratégia tem alcançando bons resultados, sendo altamente eficaz. Um político intuitivo, com três décadas de experiência no legislativo, tem feito uso inteligente do discurso, narrativa e uso das redes sociais. Assim mantem-se comentado e popular.