Economia

Fator Haddad

Haddad representa o modelo de gestão da economia que Lula implementou no passado com Palocci e que funcionou muito bem: um político, na condução da pasta

Por Márcio Coimbra
Publicado em 21 de junho de 2023 | 03:00
 
 
 
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O terceiro mandato de Lula já sinalizou erros e virtudes. Conseguimos ver no horizonte os rumos e caminhos apontados adiante que indicam as trilhas percorridas pelo menos para quatro anos. É inegável, entretanto, que a economia tem se mostrado um dos pontos fortes do governo, unindo responsabilidade fiscal, habilidade política e respaldo presidencial, itens essenciais para a construção de caminhos virtuosos.

As notícias mais recentes mostram que aquela pasta responsável por apresentar resultados no longo prazo se tornou curiosamente a de melhor resultado no curto prazo. A Bolsa tem emitido sinais animadores, e o dólar vem em queda. A expectativa de crescimento aumentou e agora chega a 2,14%, enquanto agências de classificação de risco melhoram a perspectiva para o Brasil. Mesmo diante de enorme prudência, em pouco tempo, não haverá justificativa para manter os juros tão elevados.

O resultado mostrado por Haddad tem sido a frente mais robusta do governo Lula. O ministro conseguiu fornecer direção para a economia de forma prudente, estável e conciliatória. Pouco afeito a embates, tem construído com habilidade política pontes importantes com o Congresso Nacional e especialmente com o mercado, ao mesmo tempo em que consegue segurar o fogo amigo que insiste em atrapalhar seu caminho.

Haddad representa o modelo de gestão da economia que Lula implementou no passado com Palocci e que funcionou muito bem. Um gestor, político, na condução da pasta, na liderança de um time de economistas. Um gestor, por ter sido um prefeito, no caso de Haddad, com um histórico de responsabilidade fiscal e saneamento das contas públicas. Um político, que ajuda a destravar as conversas com o Parlamento e asfalta a aprovação de suas medidas. Por fim, um corpo técnico que fornece os números necessários.

Ao optar por esse modelo, Lula se afasta das soluções mágicas e dos czares da economia que trouxeram mais derrotas do que vitórias em governos anteriores. Na economia, nomes ponderados, como Malan, geram mais resultados positivos do que animadores de auditório, como Guedes. A economia precisa de calma, estabilidade, ponderação e moderação. É, na sua essência, um trabalho conservador, que rejeita frases de efeito e revolucionárias. Ao entender isso, Haddad ganhou pontos importantes com o mercado.

Certamente ninguém espera privatizações em um governo petista, porém lidar com a previsibilidade tem seus pontos positivos. O mercado, que esperava privatizações com Guedes, saiu decepcionado. Ao ser brindado, em uma administração petista, com um mecanismo de controle de gastos públicos que gera previsibilidade, como o arcabouço fiscal, é ultrapassar as melhores expectativas para seis meses de governo. O resultado aparece nos números, no dólar, na Bolsa e na expectativa de crescimento.

O próximo passo é a reforma tributária, e Haddad poderá encerrar com enorme êxito seu primeiro ano como titular da Fazenda se conseguir aprovar aquela que é a mudança mais desafiadora das últimas décadas. Ao entregar resultados, Haddad certamente se credencia para voos mais altos e desponta como o nome mais forte para sucessão de Lula. Em pouco tempo, o mercado começará a precificar seu potencial, e a política, a encarar seu nome como uma opção real de poder. A conferir.

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