Márcio Coimbra

O começo do fim

O fato deste pleito mostrar o desgaste dos outisiders, rejeição da antipolítica, premiando bons administradores e nomes conhecidos do espectro eleitoral, mostra que o brasileiro começou a fazer as pazes com a política.

Por Márcio Coimbra
Publicado em 16 de novembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Se o pleito de 2016 foi marcado pela ascensão de outsiders, um movimento que chegou em seu pico com a eleição de Bolsonaro em 2018, tudo indica que esta tendência começa a se inverter em 2020. Este pleito foi marcado sobretudo pela confiança do eleitor em políticos conhecidos, de comprovada eficácia e longe da tal nova política.

Ademais, a pandemia teve sim um fator preponderante. Administradores que souberam lidar com a crise, especialmente preservando a vida, foram recompensados, enquanto aqueles que optaram pelo negacionismo, acabaram derrotados. Um resultado previsto, que segue o caminho adotado pelos americanos quando despacharam Donald Trump da Casa Branca. Um prenúncio do que pode vir a acontecer no Brasil. 

A experiência foi a tônica. Os políticos outsiders levados ao poder pela onda antipolítica apenas quatro anos atrás, tiveram que provar seu valor. Desta vez, ser outsider não foi atalho para a vitória, como ocorreu no passado, mas apenas uma característica que não garante sucesso nas urnas. Esta, ao contrário, foi a eleição de líderes experimentados. 

Isto se explica em capitais como São Paulo, que embalou Bruno Covas para a vitória e no Rio de Janeiro, que também encaminhou Eduardo Paes. Os dois são administradores conhecidos por uma população que atesta sua capacidade de governar cidades deste porte. O eleitor não desejou experimentar. Pelo contrário, preferiu o conhecido, aqueles nomes testados e dignos de sua confiança.

Em Belo Horizonte fez-se a mesma opção. Apesar de Alexandre Kalil ter chegado no embalo da antipolítica, como outsider, no poder soube portar-se de forma a conduzir o sistema político com habilidade, tendo alcançado elogios na condução da pandemia de forma segura e firme. O resultado das urnas premiou este caminho. Em Porto Alegre, o caminho foi o oposto. Percebemos que o eleitor estava atento a qualidade dos gestores eleitos, mesmo aqueles embalados pelo movimento de renovação da política.

Bolsonaro sai menor desta eleição, mesmo antes das urnas fecharem. Ao falhar na estruturação de seu partido ou de liderar o processo, colocando sua popularidade para trabalhar por nome alinhados com seu projeto, perdeu uma chance rara de conduzir o processo. O presidente deixou de assumir uma postura de liderança, o que se espera dele nestes momentos. 

O fato deste pleito mostrar o desgaste dos outisiders, rejeição da antipolítica, premiando bons administradores e nomes conhecidos do espectro eleitoral, mostra que o brasileiro começou a fazer as pazes com a política. Esta é uma péssima notícia para Bolsonaro, que precisa da rejeição ao sistema como combustível de sua estratégia eleitoral. Ao perceber este movimento do eleitor, as eleições presidenciais tornam-se ainda uma incógnita maior. 
A boa política está de volta. Isto é o que nos prova o pleito de 2020.

É o começo do fim dos aventureiros e o retorno de quem conhece eleições e sabe operar o sistema. Este é o principal legado desta pandemia, que separou os adultos das crianças em jogo tão importante como a política. Foi dada a largada para 2022.

 

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