MÁRCIO COIMBRA

Período de adaptação

Talvez a política externa seja o mais claro movimento de mudança neste momento


Publicado em 14 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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O governo Bolsonaro chega embalado por uma votação robusta, que fornece legitimidade inquestionável para promover mudanças no país. Esta votação reflete uma guinada em direção à direita política, que chega ao governo ainda descobrindo os caminhos dos corredores de Brasília. Isto ocorre porque, nas últimas décadas, falhamos em proporcionar real alternância de poder, quando revezaram-se tucanos e petistas no comando da administração federal.

A direita que enxergamos será moldada e amadurecida no decorrer do caminho. Por enquanto, ainda é um movimento que tomou forma pela atuação de grupos organizados de jovens, impulso intelectual do filósofo Olavo de Carvalho, a formação de um partido de cunho liberal e outro de viés conservador sob a liderança de Jair Bolsonaro. Este amálgama de diversas frentes vai aos poucos consolidar o equilíbrio de forças que liderará esta nova política.

O Congresso Nacional atuará como elemento aglutinador deste processo. Na medida que serve como caixa de ressonância dos interesses da sociedade, possui o potencial de consolidar lideranças, algo essencial na formatação de uma força conservadora/liberal mais homogênea. Assim que os projetos ganharem corpo, veremos os diferentes vetores políticos acomodando-se de forma mais natural. Rompimentos e novas alianças fazem parte deste processo.

Desta forma o governo vai tomando contornos mais definidos, com algumas correções, baixas e realinhamentos, o que é perfeitamente compreensível em um ambiente plural e democrático como vivemos hoje no Brasil. De qualquer forma, já podemos perceber mudanças de fundo em áreas sensíveis e estratégicas, como Relações Exteriores e Educação.

Talvez a política externa seja o mais claro movimento de mudança neste momento, uma vez que a revisão de posicionamentos políticos internacionais, decididas pelo presidente da República, é ato exclusivo do governo, sem interferência direta de outros Poderes. O sinal dado para Venezuela foi claro. Tanto a declaração final do Grupo do Lima, como a resolução da OEA contra Maduro tiveram participação decisiva de nossa diplomacia. Uma mudança de posicionamento profunda em nossa política externa, que pode ajudar a Venezuela e se livrar do pesadelo do bolivarianismo.

Vemos que aos poucos será possível encontrar uma convergência e interlocução maior entre setores do governo e o Parlamento que ainda tomará posse. Nada mais natural em um grupo que chega. Aos poucos, outras áreas do governo começarão a entregar vitórias tangíveis. Isto dependerá do timing político que se desenha no novo Congresso Nacional e a capacidade de organização e mobilização das forças que chegam pela direita, fundamentais neste jogo político. Este processo amadurece nossas instituições e asfalta o caminho para o fortalecimento de nossa democracia.

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