MÁRCIO COIMBRA

Velha política

Redação O Tempo


Publicado em 23 de julho de 2018 | 03:00
 
 
 
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A opção de Geraldo Alckmin (PSDB) pelo caminho da velha política pode, mais do que ser uma jogada de mestre, tornar-se o prenúncio de sua derrota. Diante de um eleitorado cético com a política tradicional, a opção pela aliança com o consórcio de partidos fisiológicos que orbitam o poder desde os primórdios do petismo até os estertores do emedebismo, pode ferir fatalmente a campanha do tucano. 

Fernando Haddad e seus companheiros de partido saudaram a aliança. O provável nome petista na corrida presidencial fala com convicção que será uma disputa entre o projeto de Temer contra o projeto de Lula. Era tudo que o PT queria. Freguês do petismo desde 2002, os tucanos são os adversários dos sonhos de Haddad. 

O prenúncio da estratégia petista faz sentido por muitos lados. O primeiro deles é que os aliados de Alckmin, somados ao tucano, sintetizam de forma clara o governo mais impopular que conhecemos, conduzido por Michel Temer. A esplanada, sob o comando do MDB, é um loteamento dividido entre PSDB, PSD, PTB, PP, PR, PRB, DEM, PPS e SD. Portanto, Geraldo Alckmin vestiu a roupa do sistema e com ela irá desfilar em um pleito em que o eleitor clama pela renovação. O PT se aproveitará disso, repisando que Alckmin é na verdade o candidato de Michel Temer. 

Por outro lado, é melhor os petistas disputarem o segundo turno contra seu sparring habitual, os tucanos, do que enfrentar o novo e o desconhecido. Jair Bolsonaro é um adversário muito mais difícil de ser batido no cenário atual, pois encarna o antipetismo e a antipolítica, dois sentimentos presentes no eleitor.

Além de agradar os petistas, o movimento de Alckmin também agradou Bolsonaro. Longe dos políticos tradicionais e com pouco tempo de propaganda, pode seguir com sua estratégia atual, agora carregando a credencial de antissistema, assim como fez Alexandre Kalil em Belo Horizonte. Lembro que nos outros pleitos presidenciais marcados pela rejeição aos políticos e a luta contra a corrupção, foram eleitos candidatos de partidos pequenos. É o caso de Collor em 1989, pelo inexpressivo PRN e Jânio em 1960 pelo minúsculo PTN. 

Cauteloso, Alckmin fez a opção conservadora pelo caminho da política tradicional, uma característica que pode ser letal em momentos de transição política. A aliança com o centrão pode gerar efeitos reversos, tanto nos palanques estaduais, com dissidências trabalhando contra o tucano, como no plano moral, pois a presença de caciques que respondem a 13 inquéritos da Lava Jato sequestra o discurso ético de Alckmin.

Além do mais, o tucano precisará mostrar uma reação rápida, sob pena de ser abandonado pelos novos sócios. Conta com o tempo de rádio e TV para sacudir seus números, mas diante de tantos desafios, não será tarefa fácil. O fato novo, portanto, é uma reedição do velho, da política de compadrio, dos arranjos de bastidor e do jogo político que o eleitor se mostra cansado. Em uma eleição de práticas novas, Alckmin tenta vencer o jogo com a velhas armas da política. 

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