Não há registro de tamanha precipitação do calendário eleitoral. Parece que as eleições de 2010 apontam na próxima esquina. Mesmo considerando que temos uma crise internacional a vencer e meses de mandato pela frente. Isso tem a ver com a intensa movimentação do presidente Lula em favor de Dilma, inclusive usando solenidades e eventos oficiais. Fato é que as análises de pesquisas e as articulações assumem contornos supostamente avançados, como se já estivéssemos entrando na reta final do processo. Ledo engano. Os principais atores políticos sabem que o jogo está só começando.

Mais uma vez, repetimos um velho erro. A partir de números preliminares, decretamos precocemente vitoriosos e derrotados. Ora, somente nós, militantes, analistas e cientistas políticos, estamos pensando para valer e com informação suficiente sobre o quadro de 2010. Mais de 90% da população está cuidando da vida, dos filhos, da sobrevivência e não acompanha com a atenção imaginada a movimentação partidária. Para ficar em dois exemplos: em 1989, Collor, desconhecido governador de Alagoas, com três programas de TV e uma campanha planejada, atropelou nomes como Ulysses Guimarães, Aureliano Chaves, Lula, Mário Covas e Maluf. Em 2006, Marcio Lacerda, Eduardo Paes, Kassab e João Henrique começaram em terceiro ou quarto lugar nas pesquisas. Hoje, governam as principais cidades do país.

As pesquisas refletem muito mais a memória de campanhas passadas, o grau de exposição acumulado dos candidatos na TV e uma opinião pública ainda desmobilizada e com informações fragmentadas. Muito mais importante é a discussão sobre a visão de futuro que se quer para o país, os compromissos programáticos, a consistência das candidaturas, a adequação delas às tarefas que temos pela frente.

Dilma se apresentará como continuidade de Lula. É pouco. Além disso, Dilma não é Lula. Não tem sua história, sua habilidade, seu talento pessoal, seu carisma. Vem de outra escola, portadora de preocupante viés autoritário. A ideia mais interessante surgida e não suficientemente debatida, foi a lançada pelo governador Aécio Neves de se pensar um projeto para o Brasil pós-Lula.

A ideia carrega um profundo conteúdo político e estratégico. Percebeu Aécio Neves que o governo Lula fecha um ciclo. Que, para avançar na consolidação da estabilidade e do desenvolvimento e no ataque frontal às desigualdades, são necessárias profundas reformas. Para viabilizá-las é fundamental um outro padrão de governabilidade.

São precisos espaços reais de negociação e diálogo para a produção de consensos e convergências, libertando o governo das pressões fisiológicas e pouco republicanas, e da radicalização estéril entre PT e PSDB. Previdência, mercado de trabalho, estrutura fiscal e tributária, sistema político e partidário, pacto federativo, revolução educacional, consolidação do SUS, tudo na mesa, em uma negociação presidida por uma liderança firme, mas que desarme o sectarismo, realinhe o quadro político e produza os resultados esperados, necessários para potencializar o futuro brasileiro.