Entre a perplexidade e o temor pelo futuro, o mundo recebeu a notícia sobre a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas. Trump fez uma campanha em tom de populismo autoritário, contra o establishment, contra os políticos (já vimos esse filme perto de nós, radicalizando o discurso conservador, mas fora dos padrões tradicionais, em que não foram poucas as declarações desastradas). Trump derrotou não só o Partido Democrata, Hillary Clinton e Obama. Derrotou também todo o sistema político, inclusive o comando institucional do próprio Partido Republicano.
A vitória de Trump revela, em meu ponto de vista, um fenômeno universal das democracias contemporâneas: o distanciamento crescente da sociedade do quadro partidário clássico. Há hoje na Europa e nos Estados Unidos um mal-estar com os caminhos da civilização. Os riscos são enormes.
A democracia é assim. Não é um sistema perfeito. É tentativa e erro, aprendizado permanente. Acerta sempre no atacado e no longo prazo, apresenta, às vezes, surpresas desagradáveis no varejo e no curto prazo. Trump surfou em cima do desemprego produzido pela crise de 2008 e pelos efeitos da globalização. Ganhou em regiões industrializadas, tradicionalmente democratas, com um agressivo discurso de recuperação de empregos pela expulsão de imigrantes e por retrocessos protecionistas.
Mas o que nós aqui, nos trópicos, temos a ver com isso? Tudo e mais alguma coisa. Os EUA, gostemos ou não, são a nação que lidera o mundo ocidental. No plano das relações internacionais, o horizonte é nebuloso e sombrio. Trump prometeu desinvestir na Otan, é perigosamente próximo de Putin, prometeu esmagar o Estado Islâmico (o que levará ao aumento das ações terroristas), acenou diálogo com a Coreia do Norte e ameaça parceiros tradicionais dos EUA, como Japão, Coreia do Sul e Austrália. É contra as iniciativas de combate ao aquecimento global e prometeu apoiar fontes poluidoras de energia, como o carvão.
No plano interno, a tragédia não é menor. Trump acenou com a piora na legislação de controle às armas. Prometeu construir um muro na fronteira com o México, orçado em R$ 25 bilhões. Defendeu o endurecimento de ações e leis anti-imigração. Criticou e disse que vai acabar com o Obamacare, que garantiu a democratização do acesso ao sistema de saúde.
Mas o que mais afeta o Brasil é o que se anuncia no plano econômico. Alinhado com o espírito do Brexit no plebiscito no Reino Unido, advoga uma perspectiva retrógrada antiglobalização, opondo-se ao Acordo do Transpacífico e ao Acordo de Livre Comércio Norte-Americano (Nafta). Propõe diminuir impostos, aumentar o protecionismo e as tarifas de produtos importados. Setores como os de suco de laranja, soja, carne e produtos siderúrgicos terão, entre outros, dificuldades adicionais. O Brasil perderia um de seus maiores mercados, que poderia alavancar a retomada de nosso crescimento.
Em resumo, apertem os cintos. Emoções fortes estão reservadas com Trump no leme do mais importante país do mundo.
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