MARCUS PESTANA

As lições que vêm do Norte

Redação O Tempo


Publicado em 23 de janeiro de 2017 | 06:30
 
 
 
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Vinte de janeiro de 2017, sexta-feira. Para surpresa de muitos e preocupação geral, assumiu a Casa Branca o polêmico e extravagante Donald Trump. O horizonte global está povoado de interrogações e enigmas. É o presidente dos EUA que assume com menor popularidade – apenas 44% dos americanos apoiam Trump na largada. Não é para menos. Ainda na transição, o presidente eleito disparou contra a Alemanha e Merkel, desrespeitou a imprensa, criticou organismos multilaterais, agrediu artistas, cutucou a China, minimizou a interferência russa nas eleições, desencadeou a reversão da universalização da cobertura das ações de saúde e nomeou uma equipe que sinaliza o período de turbulências que teremos pela frente.

O Brasil não sofrerá efeitos diretos nas questões militares e relativas à imigração. Mas pagará algum preço com as estratégias protecionistas que levarão à queda das exportações para os EUA e à desaceleração do crescimento mundial. Mas, independentemente disso, temos muito a aprender com a experiência política e social recente dos cidadãos norte-americanos.

A grande lição é sobre a dinâmica da própria democracia, esse que é seguramente o pior sistema político, exceto todos os outros que já foram experimentados.

A liberdade é o ambiente necessário ideal para o debate dos problemas coletivos, a construção de consensos progressivos, a negociação de conflitos e impasses. Porém, a democracia é invenção humana, imperfeita por sua natureza genética. É tentativa e erro, aprendizado permanente. A meritocracia e a razão nem sempre vencem. A demagogia e a intolerância podem envolver corações e mentes de uma parcela expressiva da população. Como disse o ex-presidente Barack Obama, um dos últimos estadistas em ação no mundo, em seu denso e emocionado discurso de despedida: “O trabalho da democracia sempre é duro, conflituoso e, às vezes, sangrento. Para cada dois passos para a frente, muitas vezes parece que damos um para trás. Mas, no longo prazo, os EUA têm-se movido para a frente”. E adiante: “Mas esse potencial só será realizado se a nossa democracia funcionar. Só se a política refletir a decência de nosso povo. Somente se todos nós ajudarmos a restaurar o sentido de propósito comum de que tanto precisamos agora”. E continua: “Em última análise, é isso que nossa democracia exige. Ela precisa de vocês. Não apenas quando há eleições, não apenas quando o próprio interesse estreito está em jogo, mas durante todo o período de uma vida. Se estão cansados de discutir com estranhos na internet, tentem conversar com um na vida real”.

Que os partidos políticos sérios e comprometidos com a boa política no Brasil ouçam as palavras de Obama proferidas em Chicago e consigam reciclar suas práticas tradicionais e ultrapassadas, erguendo um novo padrão de relacionamento com a sociedade. Para que as crises econômica e política, temperadas fortemente pela Lava Jato, não produzam um outsider, em 2018, que coloque em risco conquistas históricas da sociedade brasileira.

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