MURILLO DE ARAGÃO

O PT convive mal com o ajuste, o que dificulta obter apoio político

Redação O Tempo


Publicado em 27 de maio de 2015 | 03:00
 
 
 
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Nas últimas semanas, aumentou a contestação ao governo Dilma Rousseff por parte de lideranças do PT, o que deve acirrar os debates no quinto congresso da legenda, a ser realizado entre os dias 11 e 13 de junho, em Salvador (BA). Considerado nome preferencial do partido na disputa presidencial de 2018, Lula criou um “conselhão”, integrado por Alexandre Padilha, Antonio Palocci e Fernando Haddad, entre outros, para debater temas da agenda política.</CW><CW-3>
Integrante da Mensagem do Partido, corrente de oposição à Construindo um Novo Brasil (CNB), o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro mudou-se para o Rio. Ele critica o ajuste fiscal e defende a formação de uma “nova frente de esquerda” visando às próximas eleições.

O plano de Tarso é afastar o PT dos peemedebistas do Rio de Janeiro, Estado em que o aliado tem criado mais problemas ao governo no Congresso. Mesmo que não tenha força para inviabilizar a dobradinha das duas legendas em 2016, o ex-governador conseguiu dar amplitude nacional à bandeira de contestação ao partido do governador Pezão e do prefeito Eduardo Paes.

A escolha do momento atual, feita pelo PT, para brincar de “jogo da verdade”, é ruim para o Palácio do Planalto. O prazo de vigência das MPs do ajuste fiscal termina no fim da semana, a rusga entre o ministro Levy e o grupo mais próximo da presidente abala a credibilidade de todos, dificultando, além de sua natureza já espinhosa, a tarefa de arrebanhar apoio político para a receita amarga do ajuste. E não é tudo.

Após a votação das MPs 664/2014, 665/2014 e 668/2015, todas do ajuste fiscal, outras medidas provisórias entrarão em cena e manterão o clima de batalha e de intensa negociação no Congresso. Na apreciação da MP 670/2015, que ajusta a tabela do Imposto de Renda de forma escalonada, deputados do PT tentarão aprovar emenda que tributa o lucro das empresas.
Também há emendas que podem aumentar os gastos públicos. Algumas tentam garantir o reajuste anual da tabela do IR. Outras, impedir que os repasses do Fundo de Participação de Estados e Municípios sofram reduções.

O senador Paulo Paim (PT-RS), por exemplo, apresentou emenda estendendo a todos os aposentados do INSS a atual regra de reajuste do salário mínimo até 2019 (inflação, mais a variação do PIB de dois anos antes), prorrogada pela MP 672/2015. Para não perderem validade, a MP 670 precisa ser votada até o dia 8 de julho, e a 672, até o dia 17 de julho. É difícil imaginar como o governo fará isso sem contar com a adesão integral do PT a seus objetivos.

No congresso do partido, temas como a aliança com o PMDB e o ajuste fiscal prometem acirrar o debate interno. Uma pequena demonstração disso pode ser observada nas votações das MPs do ajuste na Câmara, durante as quais importantes lideranças petistas têm criticado o pacote, chegando inclusive a divulgar um manifesto cobrando mudanças na política econômica.

Na pauta da reunião em Salvador, a discussão de novas formas de eleição de sua direção dará a Tarso a oportunidade de angariar apoios à tentativa de contestar o domínio exercido pela CNB. O PT ensaia um “afastamento” de Dilma, da mesma forma que Lula já faz pensando em 2018. Para amenizar a crise com o desgaste de sua imagem, a legenda poderá operar mais como partido e menos como governo, principalmente se a CNB for derrotada no debate interno. O que colheu até aqui, no entanto, não encoraja expectativas positivas.

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