MURILO ROCHA

A tempestade chegou, mas...

Redação O Tempo


Publicado em 15 de outubro de 2015 | 03:00
 
 
 
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No início de julho, em entrevista concedida a O TEMPO, o senador Aécio Neves (PSDB), principal líder da oposição, profetizava um segundo semestre ainda mais turbulento para a presidente Dilma. Uma espécie de tempestade perfeita se avizinhava do Planalto, na opinião do senador, com a conjunção do julgamento das contas do governo, no TCU, das supostas irregularidades de campanha, avaliadas no TSE, aliados à operação Lava Jato, ao péssimo momento econômico do país e aos índices baixíssimos de popularidade da presidente.

Três meses depois, é possível constatar o acerto de boa parte das previsões feitas pelo senador mineiro. A tempestade realmente chegou e atingiu em cheio o governo. Mas, ao contrário da expectativa do tucano, a crise por si só não derrubará a presidente Dilma nem o seu governo. “O desfecho desse processo todo não depende da gente, depende dos tribunais, da Justiça, depende da Constituição”, disse o tucano à época.

Aécio sabia naquela ocasião, apesar de não dizer, e sabe agora da importância também de um agente político para canalizar e capitalizar esse embate contra o governo. E, para a sorte de Dilma e o azar da oposição, ninguém se apresenta ou parece ter condições de liderar esse processo neste momento.

A grande aposta das forças de oposição há três meses, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), se derrete à luz do dia com as denúncias de seu envolvimento nos desvios de dinheiro da Petrobras. E, para piorar, enquanto não cai, Cunha sinaliza uma aproximação com setores do governo, visto pelo peemedebista como alguém com mais proteção para oferecer durante a crise.

Com Cunha fora da jogada, fica a pergunta; quem seria esse agente político capaz de deflagrar com sucesso um processo de impeachment num enfrentamento direto com o Planalto? O próprio Aécio Neves parece não estar disposto a assumir esse papel. Como candidato natural do PSDB para 2018 – apesar de conviver com a sombra do governador paulista, Geraldo Alckmin –, ele poderia sair muito desgastado dessa batalha, com desfecho incerto. O mineiro prefere continuar agindo nos bastidores, com rompantes programados de indignação em uma entrevista aqui, num pronunciamento acolá, mas sempre com uma tropa de choque à frente.

Fora da política institucional, a indignação e o descontentamento de setores da sociedade continuam, mas também têm perdido força, justamente por essa falta de identificação de uma alternativa para substituir não só o atual governo, mas um modelo de se fazer política.

Mas, é claro, ainda há, sim, quem defenda a permanência de Eduardo Cunha como maneira de enfrentar e tirar Dilma e o PT do poder. Vai entender...

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