MURILO ROCHA

Briga da foice

Redação O Tempo


Publicado em 29 de setembro de 2016 | 04:30
 
 
 
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A poucos dias das eleições, os ataques têm se intensificado, principalmente entre os candidatos a prefeito. No meio dessa briga de foice, chama atenção o racha entre os partidos classificados ou autodeclarados como legendas de esquerda. Em crise de identidade após o impeachment de Dilma Rousseff e os escândalos da Lava Jato e, ao mesmo tempo, de olho na vacância deixada pelo PT em parte do eleitorado, as siglas identificadas com a esquerda têm deixado antigos acordos de lado para se diferenciarem na reta final da campanha. A tática tem provocado estragos e deverá reorganizar a disposição dos partidos após o período eleitoral.

Em São Paulo, os petistas lamentam a não adesão de Luiza Erundina (PSOL) à campanha para a reeleição do prefeito Fernando Haddad (PT). Os dois ocupam, respectivamente, a quarta e a quinta colocação na disputa, devendo ambos ficar fora do segundo turno, a ser decidido provavelmente entre João Doria (PSDB) e Celso Russomanno (PRB) ou Marta Suplicy (PMDB).

No Rio, onde o PT não tem candidato e andou colado visceralmente ao PMDB de Eduardo Paes (e de Michel Temer) nos últimos oito anos, a troca de acusações ocorre entre o PSOL, de Marcelo Freixo, e o PCdoB, de Jandira Feghali. Freixo concorre “pari passu” com Pedro Paulo (PMDB), candidato de Paes, a uma vaga no segundo turno – a outra já está praticamente garantida para Marcelo Crivella (PRB). Cientes da necessidade de contar com parte dos votos de Jandira para ultrapassar Pedro Paulo, hoje quarta colocada, empatada com Flávio Bolsonaro (PSC), Freixo e outros membros do PSOL partiram para o ataque contra a candidata do PCdoB, lembrando o alinhamento de seu partido e dela própria com a atual gestão peemedebista.

Em Belo Horizonte, onde nenhum partido de esquerda concorre com chances de segundo turno, o PT foi criticado no início do processo eleitoral justamente por não ceder a cabeça de chapa à deputada federal Jô Moraes (PCdoB), vice do também deputado federal Reginaldo Lopes. Jô era vista por militantes da esquerda como alguém com maior potencial de agregar votos e alianças.

Por aqui, o novo rearranjo de forças nesse campo político, se não vai interferir no resultado final do Executivo, poderá impactar a votação na Câmara dos Vereadores. E aí, PT e PCdoB correm sério risco de perder cadeiras – ou pelo menos uma – para o PSOL, cujas candidaturas foram reforçadas pelo movimento Cidade que Queremos, com forte presença nas redes sociais e entre eleitores jovens.

A bancada petista no Legislativo de Belo Horizonte, da última eleição para cá, já caiu de seis para quatro cadeiras, com a saída de Silvinho Rezende e Tarcísio Caixeta. A do PCdoB também sofreu trocas, mas se manteve em dois vereadores. Esse encolhimento do PT esperado em todo o país deverá fazer emergir novas caras na esquerda brasileira. Mas, nesta eleição, esse novo perfil ainda deverá surgir de forma tímida, em tamanho e ressonância.

Lacerda. Quem também sai bem menor do que chegou a esta eleição é o atual prefeito da capital, Marcio Lacerda (PSB). Após não conseguir costurar alianças e trocar o candidato na última hora, o nome de Lacerda, o vice Délio Malheiros (PSD), ostenta mixurucos índices de intenções de voto, algo em torno de 5%.

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