MURILO ROCHA

Briga por protagonismo

Redação O Tempo


Publicado em 11 de junho de 2015 | 03:10
 
 
 
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Nas fotos e nos discursos oficiais, o clima, as palavras de ordem e os sorrisos indicam consenso. Mas já está em jogo uma disputa nada amistosa por protagonismo pela liderança da oposição. Oficialmente, o título é do senador mineiro Aécio Neves, presidente nacional do PSDB e candidato derrotado nas eleições presidenciais passadas por uma margem surpreendentemente pequena de votos. “Perdi ganhando”, como ele próprio incorporou ao seu discurso pós-eleitoral.

Mas, na prática, a teoria é outra. Com o arrefecimento do clima de terceiro turno criado nos primeiros meses do ano, inclusive com marchas e pedidos de impeachment contra a presidente Dilma perdendo fôlego, o rearranjo de forças dentro da oposição, leia-se PSDB, abriu espaço para a entrada em cena de outro personagem não tão novo assim, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

A indecisão do senador mineiro em como se portar diante do clima beligerante – alimentado por ele também – contra a presidente Dilma nos primeiros meses de mandato foi o sinal percebido pelo governador paulista para se recolocar no jogo com vista a 2018. Em um primeiro momento, Aécio vociferou pelo impeachment, aderiu ao discurso difuso das ruas – no qual havia, inclusive, pedido de golpe militar –, mas, depois, recuou. A titubeada diante de um movimento incontrolável, talvez sugerida por um conselheiro mais sensato, acabou provocando um efeito negativo duplo.
Por um lado, grupos mais raivosos contra Dilma viram na atitude do mineiro uma traição, uma falta de firmeza para levar o impeachment adiante. Por outro, abriu-se um vácuo para a construção de uma oposição mais “racional”, com diálogo com o governo para a construção de novas propostas para o país. E foi justamente essa a brecha usada pelo tucano paulista para se reposicionar e empanar o favoritismo de Aécio como candidato natural para 2018.

Na primeira oportunidade, Alckmin já mostrou sua estratégia e se apresentou disposto a conversar com o governo federal – inclusive já se reuniu com o ministro da Justiça – para apresentar a “sua” proposta para o debate sobre a maioridade penal. Aécio reagiu rápido, e os dois selaram uma versão conjunta do PSDB para o tema, impedindo o brilho maior de um tucano em relação ao outro.
Essa foi só a primeira mostra de como se dará esse conflito no interior do PSDB pelos próximos anos. As estratégias parecem já estar definidas. Aécio, a partir do Congresso, vai apostar no sangramento incessante do governo até 2018. Alckmin, por sua vez, irá tentar construir pontes de diálogo com o Planalto, evidenciando, é claro, também as diferenças de pensamento com o governo petista. Ironicamente, Alckmin é quem vai agir mineiramente, enquanto Aécio irá para o ataque. 

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