O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes nunca escondeu ter lado. Mas, com a possibilidade de a lista do procurador geral da República, Rodrigo Janot, tornar-se pública a qualquer momento, trazendo à tona os nomes de todos os políticos citados em delações dos executivos da Odebrecht, inclusive vários do PSDB, Mendes parece atuar de forma decisiva para atenuar os efeitos da até ontem chamada “delação do fim do mundo” sobre uma parte da classe política.

Só na semana passada, o ministro do STF se reuniu três vezes com parlamentares e até com o presidente da República, Michel Temer (PMDB), para discutir uma saída às possíveis implicações da lista de Janot. O encontro com Temer, no Palácio do Planalto, foi o único oficial da agenda do ministro. Os outros dois foram animados convescotes em áreas nobres de Brasília, reunindo Mendes e citados na Lava Jato, a quem o magistrado terá de julgar em breve.

Um desses encontros foi patrocinado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), em sua residência oficial, no domingo, dia 12 de março. O pretexto era a comemoração do aniversário do senador Aécio Neves (PSDB), que completou 57 anos. Entre os presentes, além de Maia e Aécio e do próprio Mendes, estavam o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), o senador Renan Calheiros (PMDB) e o ministro da Secretaria de Governo, Moreira Franco (PMDB). Todos com pedido de abertura de inquérito feito pela Procuradoria junto ao STF.

Três dias depois, na quarta-feira, 15 de março, nova festinha. Dessa vez, foi o próprio ministro do STF o anfitrião de um evento em homenagem a outro senador tucano, José Serra (também na lista Janot). O cardápio do jantar, inclusive com a presença do presidente Michel Temer, foi uma reforma política em meio à turbulência da Lava Jato. A ideia de consenso no grupo é a adoção da lista fechada para votação. Ou seja, o eleitor vota no partido, e este decide quem serão seus candidatos. Uma forma de blindar no próximo pleito nomes tostados agora pelas delações de executivos das principais construtoras do país.

Amparado pela toga, Mendes recebeu mais uma vez a incumbência de ser um dos porta-vozes de um discurso previamente afinado. Defendeu uma distinção entre caixas 2, vociferou contra vazamentos da Lava Jato – quando estes atingiam o PT, houve silêncio por parte da Corte – e ainda atacou indiretamente Rodrigo Janot, insinuando ser ele um dos responsáveis por passar informações à imprensa. Até onde irá Gilmar Mendes e até onde irá a conivência de seus pares com as arbitrariedades do magistrado?

Sumiu. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), está praticamente desaparecido desde a irrupção da operação Carne Fraca, da Polícia Federal. Ele foi flagrado em uma das gravações da PF referindo-se a um dos principais investigados como “grande chefe” e também é acusado pela senadora Kátia Abreu (PMDB) de tê-la pressionado enquanto ela era ministra da Agricultura pela nomeação na pasta desse mesmo acusado. Há quem veja na ação da PF uma retaliação a Temer pela indicação de Serraglio. A categoria defendia outros nomes.