MURILO ROCHA

Eles venceram

Redação O Tempo


Publicado em 14 de abril de 2016 | 03:00
 
 
 
normal

Na noite de domingo, se nada mudar, será anunciada a aprovação do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff em votação na Câmara dos Deputados. Parte do país irá comemorar, sob o discurso ilusório do combate e do fim da corrupção, mas ninguém se sentirá mais vitorioso do que o PMDB, em especial Eduardo Cunha e Michel Temer. O primeiro é o responsável direto por bancar a tramitação do impeachment. Com o nome envolvido em escândalos de corrupção desde a década de 90 e réu na operação Lava Jato, Cunha agiu de forma inescrupulosa, ignorando o regimento da Casa, para acelerar a saída de Dilma via Legislativo e, ao mesmo tempo, se blindar de uma possível cassação. Como troféu por cumprir o primeiro objetivo – o qual deverá se concretizar no próximo dia 17 –, ele deverá atingir o segundo, ou seja, escapar da perda de mandato com a ajuda dos colegas.

Nos bastidores de Brasília, essa tese já é dada como líquida e certa. Temer assume o Planalto, outro peemedebista é indicado para a presidência da Câmara – o cargo será dado a Leonardo Picciani caso ele desista de apoiar o governo e vote pelo impeachment –, e o processo de Cunha naufraga em um “acordão” no Conselho de Ética. Tudo isso com a conivência e o apoio de todos os partidos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. 
 
Por isso, essa balela de combate à corrupção, presente no discurso inflamado de muitos parlamentares e replicada por parte da mídia e dos manifestantes pró-impeachment, não cola. Para a biografia de Dilma, num futuro não muito distante, será talvez motivo até de certo orgulho ter sido afastada por um Congresso tão decadente e em um processo viciado de cabo a rabo. Uma eventual deposição pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por doações ilegais para a campanha de 2014 seria muito menos nobre. 
 
A euforia do domingo, com a quase certa saída de Dilma, inflamada por uma cobertura midiática espetacularizada, logo se transformará em ressaca para muita gente boa. Porque em meio a manifestantes de camisa da seleção, enrolados em bandeiras batendo suas panelas, há pessoas bem-intencionadas, ingênuas, realmente crentes em um país melhor a partir de segunda-feira.
Provavelmente, esse grupo, cego de ódio pelo PT, esqueceu-se das consequências de se quebrarem as regras do jogo e, em breve, não se verá representado pelos próximos ocupantes do Planalto. O PMDB, novo velho dono do poder no Brasil, é um resumo de muitas das piores práticas da política brasileira. E Temer e Cunha, os dois maiores beneficiários deste momento, são a cara do PMDB de hoje, sem escrúpulo e oportunista. Brincar de escolher bandido favorito só costuma dar certo na ficção, quando se pode desligar a TV ou fechar o livro e ir dormir. 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!